sábado, 5 de julho de 2014

36 ANOS DO NASCIMENTO DE CORÇÃO PARA A ETERNIDADE



BIOGRAFIA


Gustavo Corção Braga nasceu no Rio de Janeiro, a 17 de dezembro de 1896, e fez seus primeiros estudos no Colégio Corção, fundado por sua mãe, Gracietta, na Tijuca. Tornou-se, depois, aluno do antigo Ginásio Nacional (atual Colégio Pedro II), onde terminou o curso secundário. Em 1913, matriculou-se na Escola Politécnica do Rio de Janeiro (atual Faculdade de Engenharia da UFRJ), formando-se em 1920. Aos 23 anos, viajou para o município de Ponta Porã, Mato Grosso, onde, com uma equipe de engenheiros, fez trabalhos de Astronomia de Campo, descobrindo um novo método para a determinação de latitudes. Trabalhou, em seguida, em radiocomunicações, e depois em indústria eletrônica e Telecomunicações. Em 1924, casou-se com Diva Cruz Paiva, de quem teve dois filhos -- Rogério e Mabel. Professor por tradição e vocação, ensinou Eletrônica Aplicada às Comunicações na Escola Técnica do Exército, na Companhia Telefônica Brasileira e na Escola Nacional de Engenharia na Universidade do Brasil (atual Faculdade de Engenharia da UFRJ). Preocupado com os problemas sociais, interessou-se pelo marxismo em meados dos anos 1930; mas depois de uma crise espiritual provocada pelo falecimento de sua esposa, iniciou um processo de reconversão ao catolicismo que resultaria, mais adiante, no seu primeiro livro: 'A descoberta do outro', publicado em 1944. O aparecimento desse livro colocou imediatamente Gustavo Corção em posição de destaque num meio católico que tinha como líder Alceu Amoroso Lima, e que se beneficiaria do movimento de reforma litúrgica centrado no Mosteiro de São Bento. Em 'A descoberta do outro', Corção registra sua dívida com escritores como Jacques Maritain e Gilbert K. Chesterton. Este último seria o assunto de seu segundo livro, 'Três alqueires e uma vaca', publicado em 1947. A essa altura, Corção já estava casado com Hebe Nathanson Ferreira da Silva, de quem teve quatro filhas: Margarida Maria, Maria Luísa, Maria Lúcia e Maria Teresa. Crescendo cada vez mais sua participação no meio católico, Corção passou a colaborar com Alceu Amoroso Lima na direção do Centro Dom Vital, fundado nos anos 1920 por Jackson de Figueiredo, e escreveu muitos artigos para a revista do Centro, 'A Ordem'. Suas atividades desdobraram-se, também, no campo do jornalismo, com artigos escritos para o 'Diário de Notícias', 'Correio do Povo', 'O Estado de S. Paulo' e, por último, 'O Globo'. Em 1951, Corção tentou pela primeira vez o romance; e 'Lições de abismo', publicado naquele ano, foi saudado como uma revelação (Menotti del Picchia chegou a afirmar tratar-se do maior livro de ficção já escrito no Brasil). Outro livro importante foi 'Fronteiras da técnica' (1948), a que se seguiram 'Claro escuro', 'O desconcerto do mundo', 'Dois amores e duas cidades' e, finalmente, 'O século do nada' (1973). Escritor de estilo machadiano e com pendores para o ensaísmo, Gustavo Corção tinha também uma veia polêmica que acabou arrastando-o para as controvérsias que sacudiram o meio católico depois do Concílio Vaticano II. Na linha do Maritain de 'Le Paysan de la Garonne', Corção acreditou que o sopro de renovação trazido pelo Concílio tinha, ao mesmo tempo, aberto a porta para novidades e interpretações da doutrina da Igreja que já não combinavam com a tradição católica. Sua veia combativa (ele fizera esgrima na mocidade) traduziu-se, então, numa produção literária e jornalística que foi-se tornando progressivamente mais cáustica, e provocou a sua ruptura com as posições do antigo companheiro Alceu Amoroso Lima. Corção foi particularmente violento com um tipo de esquerdismo católico que encontrou sua versão mais característica na chamada Teologia da Libertação. Num tom cada vez mais indignado, seus artigos não pouparam nem mesmo figuras da hierarquia católica como dom Helder Câmara -- o que acabou fazendo que ele recebesse uma censura da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Nessa mesma linha de crescente integrismo, ele foi-se aproximando das posições do bispo Levebvre; e, no plano político, assumiu um posicionamento de apoio integral ao regime militar instaurado em 1964. Em torno dele, formou-se um grupo chamado Permanência, que manteve uma revista do mesmo nome (mas depois da morte de Corção, o grupo cindiu-se em duas correntes, uma delas tendo ficado fiel ao magistério da Igreja, ao passo que a outra aderia cada vez mais às posições de Levebvre). O falecimento de Corção, a 6 de julho de 1978, repercutiu bastante nos jornais; e se, para muitos, suas posições políticas e religiosas tinham-se tornado inaceitáveis, não faltaram depoimentos referindo-se à sua inteireza moral e ao fato de que ele foi um dos grandes cultores da língua no Brasil moderno.
 
 
Fonte: "Melhores crônicas Gustavo Corção". Editora Global. Seleção e prefácio de Luiz Paulo Horta.
 
 
* Minha singela homenagem ao meu autor predileto. Salve, bom amigo e caro mestre, Corção!
 
 
 

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