sexta-feira, 7 de setembro de 2018

NOSSO LOUVOR A DEUS, COM UMA PÁGINA ESPLENDOROSA

 
Nesse 7 de setembro, nosso louvor de agradecimento a Deus e a Nossa Senhora, por terem livrado o Brasil do comunismo em 1964, por meio do maravilhoso e dócil instrumento dos soldados da terra, mar e ar, com uma página esplendorosa do mestre Corção, falecido há quarenta anos:
 
“Naquela manhã, à saída da missa, percebemos logo que a anormalidade chegara a um ponto decisivo. Antes mesmo de ver os lenços azuis, sentimos o ar de um dia diferente. O que faziam ali aqueles rapazes de lenço azul e revólver na cinta? Eram milicanos. O que é que se esperava? Um ataque ao palácio do Governador da Guanabara.
 
Esboçavam-se filas diante dos armazéns. A cidade inteira - advinhávamos - se preparava e se retesava. Caminhamos na direção do Palácio e encontramos amigos, homens pacíficos, negociantes e professores, que se dirigiam também ao Palácio, com um revólver surgido na cinta que jamais sonhara tamanha responsabilidade. O brasileiro bom, o brasileiro sem jeito, modesto, caminhava mansamente e sem ares de heroísmo para uma situação em que possivelmente teria de dar a vida. Povo manso, povo bom, pensava eu, mas também povo bobo e sem jeito. O que iria acontecer?
 
Numa esquina ouvi uma conversa entre dois populares:
 
- Parece que os tanques vão atacar o Palácio pela Rua Passandu.
 
- Não pode. Ô cara, você não sabe que é contra-mão?
 
Perto do Palácio adensava-se a multidão, mas no meio dos homens canhestramente dispostos a dar a vida pela Pátria passavam meninos de bicicleta e moças risonhas e despreocupadas. Seria da mocidade, desta bateria nova e bem carregada, que eles tiram tamanha energia? Não. O povo todo, observando melhor, ostentava uma graciosa e leve coragem. Uma coragem humorística. E eu tive, de repente, a intuição viva e fulgurante da vitória desse gênio brasileiro contra a substância que o ameaçava.
 
Pouco depois chegou a primeira onda de notícias surpreendentes: os tanques tinham aderido ao Governador, as Forças Armadas dominavam a situação, João Goulart fugira do Palácio das Laranjeiras, sem tempo de meter a fralda da camisa para dentro das calças. Pouco tempo depois confirmava-se a notícia, e o povo brasileiro (com exceção dos intelectuais de esquerda e dos eclesiásticos paracomunistas) ficou sabendo que Nossa Senhora ouvira nossas súplicas, que Deus nos salvara e que o instrumento escolhido para este milagre fora o nosso bom soldado da terra, mar e ar.
 
 
Dois dias depois, em todas as cidades grandes do Brasil, o povo encheu as ruas com a Marcha da Família - com Deus pela Liberdade. Eu e quatro amigos estivemos perdidos, imersos na mais densa multidão que jamais víramos reunida. Ali estava o que os intelectuais de esquerda chamavam o antipovo. Ali estava o sangue vivo de nosso bom Brasil. E eu então senti-me possuído de uma enorme admiração por este povo singular que acabava de vencer uma Copa do Mundo no combate ao comunismo.... Agradecendo a Deus os favores de exceção que de certo modo não merecíamos, agradecia também os favores da natureza e das merecidas consequências. Grande povo! 'A Europa curvou-se ante o Brasil' nos dias de Santos Dumont. Menino de quatro anos, cantei o pequeno hino de nossa projeção internacional. Velho, às portas dos setenta, cantava outro hino e candidamente prelibava a admiração universal diante da facilidade dançarina, graciosa, dionisíaca, com que o povo brasileiro pôs a correr os comunistas. (Mal sabia, na embriaguez de meu entusiasmo, que o mundo inteiro nos caluniaria. Os Estados Unidos com base na superstição de sua liberal democracia, ou no seu 'democratismo', e a Europa com base no esquerdismo que se apoderou dos meios de comunicação).
 
Foi um dos mais belos espetáculos que vi. E tenho pena dos corações alienados que não tiveram a capacidade para acolher tão boa e tão bela alegria. Lembrei-me de uma página de Léon Bloy. A França acabara de marcar a vitória do Marne. Os jornais estavam encharcados de júbilo, de esperança, de triunfo. Mas Léon Bloy folheava os jornais com cólera crescente, e depois com tristeza infinita. O que é que o velho leão procurava nos cantos dos jornais? Lá está escrito em seu Diário: 'Je cherche en vain le nom de Dieu' [Eu procuro em vão o nome de Deus].
 
Ora, em nossa grande Marcha - cuja fotografia está diante de mim - não houve menção de um só nome dos tantos civis e militares que bem mereceram o aplauso do povo. Havia um só nome: o nome de Deus."
 
 
(Gustavo Corção, na sua antológica e densa introdução de "O século do nada", sobre a vitória do Brasil sobre o comunismo em 1964)