quinta-feira, 11 de junho de 2015

"ESSA, SIM, É CARNE DA MINHA CARNE!"


Acredito que todo homem, quando encontra a mulher definitiva, seu desejo traduzido em contornos, materializado numa pessoa, repete interiormente com Adão estas palavras antigas e sempre novas: "Essa, sim, é carne da minha carne, ossos dos meus ossos!"

Obviamente, o leitor mais atento saberá que essa exclamação aplica-se também à mulher, quando os seus sonhos ganham forma, assumindo concretude e abandonando o reino da abstração.

Ainda que não acreditemos tratar-se de um livro divinamente inspirado -- não é o meu caso. Como católico, não me é dado ter dúvidas! --, parece-me incontestável que o primeiro livro da Bíblia está impregnado de um profundo conhecimento do homem.

Mas que querem dizer, afinal, aquelas palavras do Gênesis?
 
O próprio Gênesis ajuda-nos: "Não é bom que o homem esteja só." "O homem (e a mulher) precisa de um auxílio que lhe seja semelhante".

"Carne da minha carne, ossos dos meus ossos" significa alguém que se pareça comigo e que me realize. Não um idêntico, não um igual, mas alguém que possui os mesmos ideais, os mesmos valores, o mesmo desejo de caminhar na direção de Deus, de crescer para Deus. O homem, acabrunhado pela solidão mesmo ali no paraíso de delícias, havia procurado companhia entre todos os animais e nenhum encontrou que lhe agradasse, que lhe fosse semelhante. A Bíblia de Jerusalém traduz: "não encontrou ajuda que lhe correspondesse".
 
Se é preciso estar de acordo sobre o que pedir para rezar comunitariamente, quanto mais é preciso estar de acordo sobre a casa que se quer construir ao casar, sobre o ideal a perseguir, sobre como educar os filhos.
 
"Carne da minha carne, ossos dos meus ossos": essa aí me é tão semelhante que é capaz de formar uma só coisa comigo, como que um único ser, um único corpo e uma única alma. Ela é capaz de ouvir com os meus ouvidos, enxergar com os meus olhos e entender com a minha mente. É capaz de completar meus pensamentos inconclusos, de me levar mais longe do que eu iria sozinho. Aqueles outros animais do paraíso também podem significar aquelas pessoas tão diferentes de nós, que são incapazes de satisfazer-nos, de entender-nos, de enxergar a realidade como nós, de ajudar-nos a completar um pensamento.

Um bispo santo dizia: "A união dos corpos é fácil, pois um homem pode unir-se fisicamente a uma prostituta. A união dos corações é mais difícil e mais elevada. A união das almas, porém, é ainda mais rara e mais alta. É a que os casais devem buscar."

"Carne da minha carne, ossos dos meus ossos"... Parece haver aí um certo deslumbramento, um ato de contemplação. Há aí uma espécie de supresa, de êxtase sereno, de conclusão sublime. O homem não tem mais dúvidas. É possível que as tivesse todas antes, ao examinar suas outras potenciais companhias. Agora, não. Não há mais dúvidas. Há certeza, admiração, sossego do espírito e quietude da alma.

Sozinho, o homem era incapaz de realizar-se e tornar-se fecundo. Dotado de alma racional, que é o que realmente o distingue dos outros animais, o homem precisa contemplar-se em outra alma como num espelho. Precisar ler e ser lido. Compreender e ser compreendido.

 

HOSTIL A JESUS CRISTO



Santa Teresa dizia que o mundo trata bem aos seus amigos. Não é de admirar que pessoas mundanas vivam de forma alegre, confortável e saltitante. Sua vida parece um passeio de domingo no parque. Por outro lado, Jesus Cristo, que não é e nunca foi mundano, foi e continua sendo odiado. Não se trata de ligeira antipatia. Cuida-se de ódio incondicional, incontornável, muitas vezes disfarçado em suave indiferença. Platão, em tom profético, já previra que o justo por excelência seria inevitavelmente odiado pelo mundo e assassinado.

“Ninguém chuta cachorro morto”. É bem por isso que chutam, desrespeitam e caluniam Jesus Cristo. Por que o perseguem? Porque está vivo e incomoda. Seu simples nome numa faixa – parabéns, Neymar, por levar Jesus Cristo a uma Europa envelhecida, carcomida, que se esqueceu de seu passado! – desperta a ira e o nariz torcido de milhões, de milhões de pessoas e de milhões de dólares. O mundo prefere deleitar-se com o Rolling Stones e ninar ao som de “Simpatia pelo Demônio”.

Sempre me intriga a passagem dos Atos dos Apóstolos em que Jesus Cristo diz ao futuro apóstolo das gentes: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Ele poderia ter dito: “por que persegues meus discípulos”, “por que persegues a minha Igreja”. É tal a identificação de Cristo com a sua Igreja que eles aparecem como uma coisa só. Cristo, cabeça, sente as dores da Igreja, corpo, como suas. De fato, a cabeça e os membros integram o mesmo corpo. Daí se explicam as cotoveladas e os “carrinhos sem bola” dados nos cristãos aqui e acolá pela imprensa e outros intelectuais de bílis ácida, o Estado Islâmico com suas decapitações, a mal disfarçada criminalização do cristianismo, o proselitismo estatal do homossexualismo, o ateísmo prático imposto como ideologia ou religião oficial.

A tolerância das nações com as barbaridades do Estado Islâmico só podem significar uma coisa: o mundo é hostil a Jesus Cristo. Há um certo prazer e gozo secretos com o vilipêndio ao seu nome. Afinal, os cristãos ostentam o nome de Cristo, são outros cristos.

Há certas omissões que equivalem a ações. Há certos silêncios que são iguais a agressões. Há certas tolerâncias e covardias que equivalem a assassinatos.

Sim, o mundo é hostil a Jesus Cristo e embriaga-se com a sua suposta neutralidade. A aversão a Jesus Cristo aumenta na mesma proporção em que cresce imperceptivelmente a simpatia pelo demônio, o deleite com as obras más, com a moralidade invertida, com as mentiras escabrosas dos filósofos, com as modas perversas que degradam o homem. O diabo não veste Prada. Veste-se de modernidade. Traveste-se de progresso. Chama o eterno de velho.

Por vezes, fico a imaginar o quanto o diabo e seus demônios acham o homem imbecil. Ele mesmo deve custar a crer na facilidade com que os homens embarcam em suas mentiras. Dou um exemplo: essa tal  “ideologia de gênero” é algo tão estapafúrdio, tão esquizofrênico, tão grotescamente ilógico, tão patológico, que só a existência dos demônios, uma intervenção sobrenatural malévola, pode explicar a cegueira do mundo. Seria cômico, se não fosse trágico, o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais debruçarem-se sobre algo tão risível, ficção tão grotesca. Chega a ser patético a sociedade perder seu tempo com discussão tão ridícula. Contorço-me de pena de ver um programa de televisão levar essa ideologia a sério. É enfadonho demonstrar o óbvio. Eu tenho vergonha alheia da sociedade moderna.

Como um sócio oculto nas sociedades em conta de participação, o diabo é um sócio oculto do homem em todos os seus pecados e mentiras. Ele se esconde em todas as zombarias a Jesus Cristo. Às vezes o homem dá-se conta de tão estranha sociedade e conhece seu sócio. Às vezes, não.

De uns tempos para cá, o diabo não se contenta em exibir seu poder sobre o mundo. Já não parece suficiente ao diabo pavonear-se, demonstrando: “esse político é meu”, “esse organismo internacional é meu”, “esse canal de televisão é meu”, “essa banda de rock é minha”, “esse prelado é meu”, “esse tribunal e ministério são meus”. Ele se diverte em humilhá-los, escarnecer deles, fazê-los andar de quatro, montando em cima, expô-los à ridicularização pública diante de Deus, dos anjos, dos santos, dos mortos e dos vivos. Somente os sóbrios percebem a humilhação dos bêbados.

É tal a ignomínia do homem moderno, esquecido da vida ascética, que não sabe defender-se dos seus reais inimigos, nem consegue identificá-los. Surge-lhe uma ideia modernosa e logo pensa que é sua. Desabituado a lidar com as coisas do espírito, a discernir os espíritos, não sabe quando lhe sopra o Espírito Santo ou quando o aconselha o espírito mau. Dá-lhe vontade de zombar de uma faixa “100% Jesus” e não sabe que essa zombaria, que esse incômodo que o revira por dentro, que o utiliza como mero instrumento, como mero canal, vem de uma outra vontade que possui o hálito do inferno.

Eu tenho pena do homem moderno. Ele pensa que pensa. Ele acha que age. Ele pensa que age sozinho. Desconhece seu sócio oculto. É um mero joguete. Um inocente útil. É uma marionete nas mãos de alguém que ele não vê nem conhece. É um bronco, um ignorante das realidades sobrenaturais.

O pior de tudo é não ter consciência do próprio mal. É ter delírios de grandeza de bêbado. Vangloriar-se da própria doença, orgulhar-se da própria perna amputada, envaidecer-se do seu estágio terminal, fartar-se com o próprio vômito.

Estou convencido de que Deus deu licença ao demônio para humilhar o mundo moderno, para ridicularizá-lo. Sim, Deus deu licença ao diabo para debochar do homem científico, que se orgulha de andar nu, ostentando suas pomposas vestes de vento. Quanto mais se enche de si, mais o homem de nossos dias se expõe à irrisão pública, ao escárnio da história e à vergonha de seus antepassados e de seus pósteros.

O homem do ateísmo prático nem ao menos é original. Nem sequer pode vangloriar-se de ser o autor das próprias mentiras. Ele desconhece o poder e o modo de agir do seu sócio oculto. Ele não deveria atribuir a si mesmo uma obra que não é sua ou que, pelo menos, não é só sua.

Paul Medeiros Krause

terça-feira, 9 de junho de 2015

FESTA DE NOSSA SENHORA DO CARMO


Aproximam-se o mês de julho e a festa de Nossa Senhora do Carmo, no dia 16. Ouso fazer uma sugestão de viagem de férias ao amigo leitor: hospedar-se em Tiradentes, pelo menos por três ou quatro dias, participando da novena em honra de Nossa Senhora do Carmo, na Igreja do Carmo de São João del-Rei (20 km de distância de Tiradentes), com Missa, pregação de meia hora e belíssimas composições carmelitanas executadas pela extraordinária e mais que centenária Orquestra Ribeiro Bastos.

O viajante poderá desfrutar da profunda espiritualidade de São João del-Rei e Tiradentes, como também da incomensurável beleza das suas igrejas, da sua natureza e da excelente gastronomia da última cidade.

Em São João del-Rei vale a pena conhecer a Capela do Divino Espírito Santo, expoente do Rococó, pouco visitada e pouco conhecida, apesar de próxima à Igreja do Rosário, além das esplêndidas e afamadas Catedral Nossa Senhora do Pilar (em que se pode ver a cátedra ou cadeira do bispo), Igreja de São Francisco, Igreja do Carmo e Igreja de Nossa Senhora das Mercês.

Em Tiradentes é obrigatória a visita à Matriz de Santo Antônio e à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Também é bela a de Nossa Senhora das Mercês. O chafariz de São José, que também dá o nome à belíssima serra vista de qualquer parte da cidade, é um espetáculo à parte.

Se quiser mais uma dica, à noite, sugiro pedir um "bacalhau fumeiro" (defumado) e um bom vinho no Restaurante "Atrás da Matriz". Ali também há boas pizzas.

No dia 16, dia da festa, desde que previamente inscrito, na Missa das 15 horas, sempre no Carmo, o fiel poderá ingressar na Confraria do Santo Escapulário e receber a imposição deste, necessária para lucrarem-se as superabundantes indulgências anexas a esta devoção.

As Missas diárias ocorrem às 18:30h, seguidas da novena com a participação da orquestra. Não raro um bispo ou um frade carmelita é o pregador. No dia 16, a Missa Solene, a que se segue a magnífica procissão, com as imagens de Nossa Senhora do Carmo, Santa Teresa de Jesus e São Simão Stock, que percorrem as poéticas ruas de São João del-Rei, acontece às 17:30h.