Santa Teresa dizia que o mundo trata bem
aos seus amigos. Não é de admirar que pessoas mundanas vivam de forma alegre, confortável
e saltitante. Sua vida parece um passeio de domingo no parque. Por outro lado, Jesus
Cristo, que não é e nunca foi mundano, foi e continua sendo odiado. Não se
trata de ligeira antipatia. Cuida-se de ódio incondicional, incontornável, muitas vezes
disfarçado em suave indiferença. Platão, em tom profético, já previra que o
justo por excelência seria inevitavelmente odiado pelo mundo e assassinado.
“Ninguém chuta cachorro morto”. É bem por
isso que chutam, desrespeitam e caluniam Jesus Cristo. Por que o perseguem?
Porque está vivo e incomoda. Seu simples nome numa faixa – parabéns, Neymar,
por levar Jesus Cristo a uma Europa envelhecida, carcomida, que se esqueceu de seu
passado! – desperta a ira e o nariz torcido de milhões, de milhões de pessoas e
de milhões de dólares. O mundo prefere deleitar-se com o Rolling Stones e ninar
ao som de “Simpatia pelo Demônio”.
Sempre me intriga a passagem dos Atos
dos Apóstolos em que Jesus Cristo diz ao futuro apóstolo das gentes: “Saulo,
Saulo, por que me persegues?” Ele poderia ter dito: “por que persegues meus
discípulos”, “por que persegues a minha Igreja”. É tal a identificação de
Cristo com a sua Igreja que eles aparecem como uma coisa só. Cristo, cabeça, sente as
dores da Igreja, corpo, como suas. De fato, a cabeça e os membros integram o
mesmo corpo. Daí se explicam as cotoveladas e os “carrinhos sem bola” dados nos
cristãos aqui e acolá pela imprensa e outros intelectuais de bílis ácida, o
Estado Islâmico com suas decapitações, a mal disfarçada criminalização do cristianismo,
o proselitismo estatal do homossexualismo, o ateísmo prático imposto como
ideologia ou religião oficial.
A tolerância das nações com as
barbaridades do Estado Islâmico só podem significar uma coisa: o mundo é hostil
a Jesus Cristo. Há um certo prazer e gozo secretos com o vilipêndio ao seu
nome. Afinal, os cristãos ostentam o nome de Cristo, são outros cristos.
Há certas omissões que equivalem a ações. Há certos silêncios que são iguais a agressões. Há certas tolerâncias e covardias que equivalem a assassinatos.
Há certas omissões que equivalem a ações. Há certos silêncios que são iguais a agressões. Há certas tolerâncias e covardias que equivalem a assassinatos.
Sim, o mundo é hostil a Jesus Cristo e embriaga-se
com a sua suposta neutralidade. A aversão a Jesus Cristo aumenta na mesma
proporção em que cresce imperceptivelmente a simpatia pelo demônio, o deleite
com as obras más, com a moralidade invertida, com as mentiras escabrosas dos
filósofos, com as modas perversas que degradam o homem. O diabo não veste
Prada. Veste-se de modernidade. Traveste-se de progresso. Chama o eterno de
velho.
Por vezes, fico a imaginar o quanto o
diabo e seus demônios acham o homem imbecil. Ele mesmo deve custar a crer na
facilidade com que os homens embarcam em suas mentiras. Dou um exemplo: essa
tal “ideologia de gênero” é algo tão estapafúrdio, tão esquizofrênico, tão
grotescamente ilógico, tão patológico, que só a existência dos demônios, uma
intervenção sobrenatural malévola, pode explicar a cegueira do mundo. Seria
cômico, se não fosse trágico, o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais debruçarem-se sobre algo tão risível, ficção tão grotesca. Chega a ser patético a
sociedade perder seu tempo com discussão tão ridícula. Contorço-me de pena de
ver um programa de televisão levar essa ideologia a sério. É
enfadonho demonstrar o óbvio. Eu tenho vergonha alheia da sociedade moderna.
Como um sócio oculto nas
sociedades em conta de participação, o diabo é um sócio oculto do homem em
todos os seus pecados e mentiras. Ele se esconde em todas as zombarias a Jesus
Cristo. Às vezes o homem dá-se conta de tão estranha sociedade e conhece seu sócio. Às vezes, não.
De uns tempos para cá, o diabo não se
contenta em exibir seu poder sobre o mundo. Já não parece suficiente ao diabo pavonear-se, demonstrando: “esse
político é meu”, “esse organismo internacional é meu”, “esse canal de televisão
é meu”, “essa banda de rock é minha”, “esse prelado é meu”, “esse tribunal e
ministério são meus”. Ele se diverte em humilhá-los, escarnecer deles, fazê-los
andar de quatro, montando em cima, expô-los à ridicularização pública diante de
Deus, dos anjos, dos santos, dos mortos e dos vivos. Somente os sóbrios
percebem a humilhação dos bêbados.
É tal a ignomínia do homem moderno,
esquecido da vida ascética, que não sabe defender-se dos seus reais inimigos,
nem consegue identificá-los. Surge-lhe uma ideia modernosa e logo pensa que é sua.
Desabituado a lidar com as coisas do espírito, a discernir os espíritos, não
sabe quando lhe sopra o Espírito Santo ou quando o aconselha o espírito mau.
Dá-lhe vontade de zombar de uma faixa “100% Jesus” e não sabe que essa
zombaria, que esse incômodo que o revira por dentro, que o utiliza como mero
instrumento, como mero canal, vem de uma outra vontade que possui o hálito do
inferno.
Eu tenho pena do homem moderno. Ele
pensa que pensa. Ele acha que age. Ele pensa que age sozinho. Desconhece seu
sócio oculto. É um mero joguete. Um inocente útil. É uma marionete nas mãos
de alguém que ele não vê nem conhece. É um bronco, um ignorante das realidades
sobrenaturais.
O pior de tudo é não ter consciência do próprio mal. É ter delírios de grandeza de bêbado. Vangloriar-se da própria doença, orgulhar-se da própria perna amputada, envaidecer-se do seu estágio terminal, fartar-se com o próprio vômito.
O pior de tudo é não ter consciência do próprio mal. É ter delírios de grandeza de bêbado. Vangloriar-se da própria doença, orgulhar-se da própria perna amputada, envaidecer-se do seu estágio terminal, fartar-se com o próprio vômito.
Estou
convencido de que Deus deu licença ao demônio para humilhar o mundo moderno, para
ridicularizá-lo. Sim, Deus deu licença ao diabo para debochar do homem
científico, que se orgulha de andar nu, ostentando suas pomposas vestes de vento. Quanto mais se enche
de si, mais o homem de nossos dias se expõe à irrisão pública, ao escárnio da
história e à vergonha de seus antepassados e de seus pósteros.
O homem do ateísmo prático nem ao menos
é original. Nem sequer pode vangloriar-se de ser o autor das próprias mentiras.
Ele desconhece o poder e o modo de agir do seu sócio oculto. Ele não deveria atribuir a si mesmo uma obra que não é sua ou que, pelo menos, não é só sua.
Paul Medeiros Krause
Nenhum comentário:
Postar um comentário