quinta-feira, 11 de junho de 2015

HOSTIL A JESUS CRISTO



Santa Teresa dizia que o mundo trata bem aos seus amigos. Não é de admirar que pessoas mundanas vivam de forma alegre, confortável e saltitante. Sua vida parece um passeio de domingo no parque. Por outro lado, Jesus Cristo, que não é e nunca foi mundano, foi e continua sendo odiado. Não se trata de ligeira antipatia. Cuida-se de ódio incondicional, incontornável, muitas vezes disfarçado em suave indiferença. Platão, em tom profético, já previra que o justo por excelência seria inevitavelmente odiado pelo mundo e assassinado.

“Ninguém chuta cachorro morto”. É bem por isso que chutam, desrespeitam e caluniam Jesus Cristo. Por que o perseguem? Porque está vivo e incomoda. Seu simples nome numa faixa – parabéns, Neymar, por levar Jesus Cristo a uma Europa envelhecida, carcomida, que se esqueceu de seu passado! – desperta a ira e o nariz torcido de milhões, de milhões de pessoas e de milhões de dólares. O mundo prefere deleitar-se com o Rolling Stones e ninar ao som de “Simpatia pelo Demônio”.

Sempre me intriga a passagem dos Atos dos Apóstolos em que Jesus Cristo diz ao futuro apóstolo das gentes: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Ele poderia ter dito: “por que persegues meus discípulos”, “por que persegues a minha Igreja”. É tal a identificação de Cristo com a sua Igreja que eles aparecem como uma coisa só. Cristo, cabeça, sente as dores da Igreja, corpo, como suas. De fato, a cabeça e os membros integram o mesmo corpo. Daí se explicam as cotoveladas e os “carrinhos sem bola” dados nos cristãos aqui e acolá pela imprensa e outros intelectuais de bílis ácida, o Estado Islâmico com suas decapitações, a mal disfarçada criminalização do cristianismo, o proselitismo estatal do homossexualismo, o ateísmo prático imposto como ideologia ou religião oficial.

A tolerância das nações com as barbaridades do Estado Islâmico só podem significar uma coisa: o mundo é hostil a Jesus Cristo. Há um certo prazer e gozo secretos com o vilipêndio ao seu nome. Afinal, os cristãos ostentam o nome de Cristo, são outros cristos.

Há certas omissões que equivalem a ações. Há certos silêncios que são iguais a agressões. Há certas tolerâncias e covardias que equivalem a assassinatos.

Sim, o mundo é hostil a Jesus Cristo e embriaga-se com a sua suposta neutralidade. A aversão a Jesus Cristo aumenta na mesma proporção em que cresce imperceptivelmente a simpatia pelo demônio, o deleite com as obras más, com a moralidade invertida, com as mentiras escabrosas dos filósofos, com as modas perversas que degradam o homem. O diabo não veste Prada. Veste-se de modernidade. Traveste-se de progresso. Chama o eterno de velho.

Por vezes, fico a imaginar o quanto o diabo e seus demônios acham o homem imbecil. Ele mesmo deve custar a crer na facilidade com que os homens embarcam em suas mentiras. Dou um exemplo: essa tal  “ideologia de gênero” é algo tão estapafúrdio, tão esquizofrênico, tão grotescamente ilógico, tão patológico, que só a existência dos demônios, uma intervenção sobrenatural malévola, pode explicar a cegueira do mundo. Seria cômico, se não fosse trágico, o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais debruçarem-se sobre algo tão risível, ficção tão grotesca. Chega a ser patético a sociedade perder seu tempo com discussão tão ridícula. Contorço-me de pena de ver um programa de televisão levar essa ideologia a sério. É enfadonho demonstrar o óbvio. Eu tenho vergonha alheia da sociedade moderna.

Como um sócio oculto nas sociedades em conta de participação, o diabo é um sócio oculto do homem em todos os seus pecados e mentiras. Ele se esconde em todas as zombarias a Jesus Cristo. Às vezes o homem dá-se conta de tão estranha sociedade e conhece seu sócio. Às vezes, não.

De uns tempos para cá, o diabo não se contenta em exibir seu poder sobre o mundo. Já não parece suficiente ao diabo pavonear-se, demonstrando: “esse político é meu”, “esse organismo internacional é meu”, “esse canal de televisão é meu”, “essa banda de rock é minha”, “esse prelado é meu”, “esse tribunal e ministério são meus”. Ele se diverte em humilhá-los, escarnecer deles, fazê-los andar de quatro, montando em cima, expô-los à ridicularização pública diante de Deus, dos anjos, dos santos, dos mortos e dos vivos. Somente os sóbrios percebem a humilhação dos bêbados.

É tal a ignomínia do homem moderno, esquecido da vida ascética, que não sabe defender-se dos seus reais inimigos, nem consegue identificá-los. Surge-lhe uma ideia modernosa e logo pensa que é sua. Desabituado a lidar com as coisas do espírito, a discernir os espíritos, não sabe quando lhe sopra o Espírito Santo ou quando o aconselha o espírito mau. Dá-lhe vontade de zombar de uma faixa “100% Jesus” e não sabe que essa zombaria, que esse incômodo que o revira por dentro, que o utiliza como mero instrumento, como mero canal, vem de uma outra vontade que possui o hálito do inferno.

Eu tenho pena do homem moderno. Ele pensa que pensa. Ele acha que age. Ele pensa que age sozinho. Desconhece seu sócio oculto. É um mero joguete. Um inocente útil. É uma marionete nas mãos de alguém que ele não vê nem conhece. É um bronco, um ignorante das realidades sobrenaturais.

O pior de tudo é não ter consciência do próprio mal. É ter delírios de grandeza de bêbado. Vangloriar-se da própria doença, orgulhar-se da própria perna amputada, envaidecer-se do seu estágio terminal, fartar-se com o próprio vômito.

Estou convencido de que Deus deu licença ao demônio para humilhar o mundo moderno, para ridicularizá-lo. Sim, Deus deu licença ao diabo para debochar do homem científico, que se orgulha de andar nu, ostentando suas pomposas vestes de vento. Quanto mais se enche de si, mais o homem de nossos dias se expõe à irrisão pública, ao escárnio da história e à vergonha de seus antepassados e de seus pósteros.

O homem do ateísmo prático nem ao menos é original. Nem sequer pode vangloriar-se de ser o autor das próprias mentiras. Ele desconhece o poder e o modo de agir do seu sócio oculto. Ele não deveria atribuir a si mesmo uma obra que não é sua ou que, pelo menos, não é só sua.

Paul Medeiros Krause

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