quinta-feira, 29 de outubro de 2015

BURRICE ESPIRITUAL


Amigo leitor, às vezes, com certo estarrecimento, dou-me conta da existência de um fenômeno que se poderia chamar de burrice espiritual. Os fatos estão aí, com toda a sua eloquência, são praticamente esfregados em nossos narizes, mas há pessoas que insistem em interpretar o óbvio, a deslocar os eixos, a relativizar o principal e a absolutizar o secundário. Devo dizer, em verdade, que essa burrice espiritual, na verdade, não é uma burrice ou falta de inteligência. É pior. É mais grave. É uma falta de sabedoria. É uma resistência claramente oferecida ao Espírito Santo. É uma falta de sensibilidade para as inspirações de Deus. As inspirações que Ele nos dá ou dá aos outros.

A sabedoria nada tem a ver com a cultura, com o acúmulo de conhecimento teórico. Uma analfabeta que recita o rosário pode ser sábia. Um pós-doutor pode não ser. A essa dificuldade de interpretar os fatos com olhar sobrenatural, a essa falta de discernimento dos espíritos, a essa incapacidade de distinguir o que é de Deus e o que é do demônio é que eu chamo de burrice espiritual.

A doutrina católica, com toda a sua riqueza, sabe muito bem discernir o bem do mal. Mais do que isso: ela sabe discernir o mal maior do mal menor. Quando o bem é impossível de alcançar, estamos obrigados a perseguir e a defender o mal menor. Mas há pessoas que não compreendem isso. Tratam todos os bens e todos os males como se fossem equivalentes, como se tivessem o mesmo grau, a mesma intensidade. E com isso, acabam por favorecer o maior mal.

São desse quilate os “católicos” que equiparam o PSDB ao PT, o Eduardo Cunha à Dilma Rousseff. São dessa estirpe os que condenam o PT, mas votam em Marina Silva, no PSB, no PCdoB e no PV, pois a carência de sabedoria também enxerga graus onde eles não existem, distingue o que é igual. Essa falta de capacidade de ser pragmático no que é importante, de ser prático para evitar situações graves ou gravíssimas, é tão ou mais grave que a própria maldade. Essa falta de intuição ou percepção para distinguir os graus de maldade, os níveis de podridão, é de todo inconveniente, é absolutamente nociva e perniciosa. É preciso ter clareza de ideias. É preciso ser eficiente na ação. Nossa consciência não pode estar assim tão adormecida, tão anestesiada, tão entorpecida, que a tudo equipare ou que vislumbre diferença onde há igualdade.

Sempre impressionou-me o equilíbrio, a isenção, do pensamento católico. O catolicismo não é preguiçoso, não rejeita teorias ou correntes filosóficas em bloco. É mais cômoda a posição de aceitação ou rejeição total. Mas os pensadores católicos dão-se ao trabalho de separar o joio do trigo, em vez de condenar o trigo com o joio. Não rejeitam um pensador ou uma teoria em bloco. Sabem separar o que é bom e rejeitar o que é mau. Sabem discernir os graus de bondade e os graus de maldade. Nesse ponto precisamos exercitar-nos e aprender com os grandes mestres do catolicismo. Santo Agostinho batizou Platão. Santo Tomás batizou Aristóteles. Por outro lado, eles também não aceitaram o que simplesmente tinha aparência de bem. Não caíram em amardilhas. De longe, identificaram os erros. Souberam rejeitar o mal com aparência de bem.

Há um trecho do evangelho que diz: “mesmo que um morto ressuscite, não acreditarão”. Não devemos ser resistentes ao Espírito Santo, não devemos contrariar as Suas inspirações. É necessário que interpretemos, com sabedoria, os sinais dos tempos, sem exigir coisas extraordinárias, milagres estupendos, manifestações exuberantes. Aprendamos com os sábios e com os mestres de outrora e de hoje. Não confiemos em nós mesmos. Procuremos conhecer a opinião, nos mais variados assuntos, dos homens fiéis à Igreja, de ontem e de hoje. E não ofereçamos oposição injustificada ao que nos revela o Espírito Santo. 

Paul Medeiros Krause

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