Blog católico e cultural, eventualmente jurídico, com divulgação de ideias, livros, gostos e opiniões.
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
SONETO INCENDIÁRIO
Ó, m'a gata sublime, borralheira,
Cândida criança de branca neve,
Por ti se torna minh'alma mais leve
E se arrepia toda a minha cabeleira.
Água límpida, tíbia cachoeira,
A ti, amor, que meu destino leve,
Do peito, o coração, perfume breve,
Da boca uma canção que cante inteira.
Tua beleza como o oceano vasta,
Que oculta frutos, estrelas, cavalos,
De minh'alma destrói tudo o que encarde.
Inflama meu fogão e dá estalos,
Ó chama que consome, mas não arde!,
E da face fria o franzir afasta.
Paul Medeiros Krause, 1992, após ter lido o "Livro de Sonetos" de Vinícius de Moraes.
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
"THE SKY IS CRYING"
Por duas vezes, amável leitor, ouvindo um mesmo blues, magnificamente executado por Stevie Ray Vaughan numa performance ao vivo de 4 de outubro de 1984, no Carnegie Hall, Nova York, encostaram o carro ao lado do meu, uma delas no sinal de trânsito, para me perguntar: “Que música excepcional é esta que você está escutando?”
Era “The Sky is Crying”, que, salvo
melhor juízo, não foi composta por aquele brilhante guitarrista, infelizmente
falecido na flor da idade.
Não sou entendido de blues, mas há um
momento em que, no meio daqueles estupendos, grandiosos solos de guitarra,
executados com toda a perfeição e energia possíveis, a música parece agonizar para então
ressurgir com mais e mais força, reservando o seu melhor, o ápice, para os
momentos finais.
Perdoe-me pela pobre analogia. Por
comparar coisas temporais com realidades eternas. Mas devo dizer que este homem
embrutecido pelo deleite das coisas mundanas, toda vez que ouve “The Sky is
Crying”, lembra-se da famosa ladainha lauretana, a mais conhecida e famosa
ladainha de Nossa Senhora.
Avanço na analogia. Esse momento no
blues em que a música parece agonizar, morrer, para ressuscitar com toda a
força, com espantoso ímpeto, deve certamente possuir um nome técnico e não é
algo exclusivo do clássico que mencionei. Esse instante apoteótico, quase
apocalíptico, lembra-me os dizeres finais da ladainha lauretana. Aqueles que
designam a Mãe de Deus como Rainha.
Antes das invocações finais, a ladainha
inclina-se para uma morte e depois reergue-se para uma ressurreição. Há uma
inflexão, quase uma pausa mortal aqui: “Saúde dos enfermos, Refúgio dos
pecadores, Consoladora dos aflitos, Auxílio dos cristãos”.
Imediatamente em seguida porém a
torrente de invocações ressurge com toda a sua força, como se pudéssemos ouvir o coro
invisível e inaudível de todos os anjos e santos, com todas as potestades,
dominações e trombetas celestes, e toda a natureza, com a sua voz surda,
prorrompendo: “Rainha dos anjos, Rainha dos patriarcas, Rainha dos profetas,
Rainha dos apóstolos, Rainha dos mártires, Rainha dos confessores, Rainha das virgens,
Rainha de todos os santos, Rainha concebida sem pecado original, Rainha assunta
ao céu, Rainha do santíssimo rosário, Rainha da família, Rainha da paz”.
E assim terminam as invocações à Mãe de
Deus no seu ápice, com gosto de paraíso, como uma antessala do céu, inundada de
poder, de estrondo e de paz.
Paul Medeiros Krause
Assinar:
Postagens (Atom)