sábado, 22 de julho de 2017

MARIA MADALENA, POR SÃO JOÃO DA CRUZ


"6. Por isso Maria Madalena, sendo tão estimada em sua pessoa, como antes o era, não se importou com a turba de homens, consideráveis ou não, que assistiam como convidados ao banquete; nem reparou que não lhe ficava bem ir chorar e derramar lágrimas entre essas pessoas; tudo isto fez, a troco de poder chegar junto daquele por quem sua alma estava ferida e inflamada. É ainda a embriaguez e ousadia própria do amor: saber que seu Amado estava encerrado no sepulcro com uma grande pedra selada, cercado de soldados guardando-o para seus discípulos não o furtarem (Jo 20,1), e, todavia, não ponderar qualquer destes obstáculos, mas ir, antes do romper do dia, com unguentos a fim de ungi-lo.

7. E, finalmente, essa embriaguez e ânsia de amor fez com que ela perguntasse àquele que lhe parecia ser o hortelão, se havia furtado o corpo do sepulcro. Pediu-lhe ainda, se tal fosse o caso, que dissesse onde o havia posto, para ela ir buscá-lo (Jo 20,15). Não reparou que tal pergunta, em livre juízo e razão, era disparate; pois, é claro, se o homem o havia furtado, não havia de confessar, e, menos ainda, de o deixar tomar. Tal é a condição do amor em sua força e veemência: tudo lhe parece possível, e imagina que todos andam ocupados naquilo mesmo que o ocupa. Não admite que haja outra coisa em que pessoa alguma possa cuidar, ou procurar, senão o objeto a quem ele ama e procura."

(São João da Cruz, "Noite escura", Livro II, Capítulo XIII)

 

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