Urna com os restos mortais de São Domingos, em Bolonha |
CUMPRE, Ó PAI, O QUE DISSESTE
Em 1221, numa sexta-feira, 6 de agosto, duma cela do convento dominicano de Bolonha voava para o Céu a alma de São Domingos de Gusmão, o homem que, segundo palavras do Eterno Pai a Santa Catarina de Sena, foi o mais parecido com o Filho de Deus encarnado, na sua alma, no seu corpo e nas suas obras.
Nasceu em Caleruega, uma pequena aldeia da Província de Burgos e Diocese de Osma, no dia 24 de junho de 1170, dia da festa de São João Batista, a quem tão de perto viria a imitar no seu longo e fecundo apostolado.
A sua família era das mais distintas e ilustres do reino. Filho de pais santos, superou, em ciência e santidade, todos os seus familiares. Aos 14 anos ingressou na Universidade de Palência, sendo considerado, entre os estudantes, um autêntico anjo pela pureza do seu coração e penetração da sua inteligência.
Cedo começou a revelar o seu amor aos irmãos carentes, física e espiritualmente, e total desprendimento dos bens terrenos. Um dia, ao verificar os horríveis efeitos da fome por que passavam os pobres, consequência duma prolongada seca, para os poder socorrer vende tudo o que possui, até os preciosos códices por onde estudava, dizendo: "Não quero peles mortas, quando vejo morrer as vivas" [os livros eram feitos de peles de animais]. Outra vez, ao ver uma mulher chorar amargamente por um seu irmão cativo dos mouros, e sem meios para o resgatar, oferece-se para ficar no lugar do prisioneiro e, deste modo, o libertar do cativeiro.
Concluídos os estudos, Domingos transfere-se para Osma e ali é eleito arcediago da catedral. Em 1203 acompanha o seu bispo numa longa viagem até à Dinamarca, ao serviço do rei Afonso IX de Leão. Nessa viagem, toma contato direto com a heresia albigense. Em Tolouse, na hospedaria em que pernoitam, Domingos passa toda a noite a disputar com o proprietário da hospedaria, herético fanático, e leva-o a abraçar a verdadeira fé. Este acontecimento constitui um marco decisivo na sua vida: na ânsia de salvar almas, da Dinamarca segue para Roma a fim de obter do Papa autorização para se dedicar à evangelização dos cumanos. Inocêncio III, porém, preferiu confiar-lhe a conversão dos albigenses que assolavam sobretudo o sul da França.
Aqui começa a ingente e frutuosíssima gesta apostólica de Domingos. Com a sua alegre e doutrinal pregação, rapidamente conquista a simpatia de alguns jovens universitários que aderem ao seu sublime ideal de conquistar almas para Deus. Rodeado de uma plêiade de virtuosos e cultos sacerdotes, ardendo em vivos desejos de participarem em tão santa cruzada, funda a Ordem dos Pregadores, confirmada oficialmente pelo Papa Honório III, com a Bula 'Religiosam vitam', de 22 de dezembro de 1216.
Domingos e seus filhos "empreenderam viva luta contra os erros e contra os vícios que ao tempo dizimavam o rebanho de Cristo. A vida de São Domingos e´ de uma operosidade que raia pelo inverossímil: pregando, percorreu, sempre a pe´, a Espanha, a França e a Itália; fundou numerosos conventos para homens e mulheres. Deus honrou-o com o dom das profecias e milagres". E, segundo uma tradição imemorial, da Santíssima Virgem, de quem era profundo devoto, numa ermida a ela dedicada, terá recebido a revelação do Rosario; não, e´ claro, como a praticamos hoje, mas na sua gênese.
São Domingos tinha também uma extraordinária devoção a Jesus Eucarístico. Dificilmente se encontrara´ um adorador noturno que, como ele, tenha passado tantas horas junto do sacrário, desde o crepúsculo ate´ o amanhecer, orando em variadas e expressivas atitudes: ora de joelhos, ora de pe´, com os braços em cruz ou de mãos juntas elevadas para o ceu; outras vezes todo prostrado no pavimento da igreja.
Após uma vida tão laboriosa e cheia, Domingos, esgotado pelo trabalho, pelo calor do verão e pela febre, ele, que nunca quis dormir numa cama, nem sequer num simples colchão, viu-se forçado a deitar-se numa pobre enxerga de palha, no convento de Bolonha. Conheceu, então, que chegara a hora de receber o merecido "salario" do seu imenso labor na vinha do Senhor. Com São Paulo, podia dizer confiadamente: "Avizinha-se o tempo da minha libertação. Combati o bom combate, terminei a corrida, permaneci fiel. A partir de agora já me aguarda a merecida coroa, que me entregara´ o Senhor, justo juiz... O Senhor esteve comigo e deu-me forças, a fim de que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse proclamada" (2 Tm 4, 6-8.17).
"Humilde ate à ultima hora, fez confissão geral diante dos irmãos presentes", deixando todos edificados, porque nunca perdera a inocência batismal; pediu o sacramento da unção dos enfermos e o santo viatico e, de seguida, que os irmãos se preparassem para a encomendação da alma. Todos se ajoelharam para iniciar as ladainhas, mas Domingos pediu-lhes que esperassem um pouco e começou a falar-lhes como Jesus aos seus discípulos na ultima Ceia: "Amai-vos uns aos outros, sede humildes, pobres e puros. Deixo-vos este testamento e esta herança com a benção de Deus e a minha".
Chorando, Frei Ventura aproximou-se dele e disse-lhe: "Pai, vede como nos deixais a todos consternados e órfãos. Lembrai-vos de nos quando estiverdes na gloria de Deus". São Domingos levantou os olhos para o ceu, juntou as mãos, rezou e, voltando-se para os seus filhos angustiados, disse-lhes: "Espero no Senhor que depois de morto vos serei mais útil do que em vida. Não vos esquecerei, levo-vos no coração. No ceu ajudar-vos-ei mais do que aqui". E, momentos depois, a sua santa alma voava para Deus. "Ao amortalha-lho, tiraram a cadeia de ferro que lhe cingia o corpo e com que se disciplinava".
Domingos foi canonizado por Gregorio IX a 13 de junho de 1234. A sua festa litúrgica celebra-se a 8 de agosto.
Desde que a trasladação das suas relíquias se fez numa terça-feira (24 de maio de 1232), este dia ficou, na Ordem Dominicana, consagrado ao Santo Patriarca.
Deus de ternura e compaixão, que suscitaste em Domingos o pregador do teu Evangelho de misericórdia, Evangelho da plenitude da justiça, e o levaste a construir uma família que, em obras e palavras, testemunhasse a gratuidade do teu amor, ajuda-nos a encontrar o silencio donde saia a palavra que alumie de esperança a nossa noite e o gesto que nos traga uma paz ardente.
Faz do Espirito de Jesus Cristo a graça da nossa vida. Amém.
Fonte: Novena a S. Domingos. Editorial Apostolado do Rosario. 2. ed. actualizada. Fatima. 2006.
Distribuidor: Secretariado Nacional do Rosario. Padres Dominicanos.
Rua de São Domingos s/n - 2495-431 FATIMA
E-mail: snrosario@clix.pt
Domingos e seus filhos "empreenderam viva luta contra os erros e contra os vícios que ao tempo dizimavam o rebanho de Cristo. A vida de São Domingos e´ de uma operosidade que raia pelo inverossímil: pregando, percorreu, sempre a pe´, a Espanha, a França e a Itália; fundou numerosos conventos para homens e mulheres. Deus honrou-o com o dom das profecias e milagres". E, segundo uma tradição imemorial, da Santíssima Virgem, de quem era profundo devoto, numa ermida a ela dedicada, terá recebido a revelação do Rosario; não, e´ claro, como a praticamos hoje, mas na sua gênese.
São Domingos tinha também uma extraordinária devoção a Jesus Eucarístico. Dificilmente se encontrara´ um adorador noturno que, como ele, tenha passado tantas horas junto do sacrário, desde o crepúsculo ate´ o amanhecer, orando em variadas e expressivas atitudes: ora de joelhos, ora de pe´, com os braços em cruz ou de mãos juntas elevadas para o ceu; outras vezes todo prostrado no pavimento da igreja.
Após uma vida tão laboriosa e cheia, Domingos, esgotado pelo trabalho, pelo calor do verão e pela febre, ele, que nunca quis dormir numa cama, nem sequer num simples colchão, viu-se forçado a deitar-se numa pobre enxerga de palha, no convento de Bolonha. Conheceu, então, que chegara a hora de receber o merecido "salario" do seu imenso labor na vinha do Senhor. Com São Paulo, podia dizer confiadamente: "Avizinha-se o tempo da minha libertação. Combati o bom combate, terminei a corrida, permaneci fiel. A partir de agora já me aguarda a merecida coroa, que me entregara´ o Senhor, justo juiz... O Senhor esteve comigo e deu-me forças, a fim de que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse proclamada" (2 Tm 4, 6-8.17).
"Humilde ate à ultima hora, fez confissão geral diante dos irmãos presentes", deixando todos edificados, porque nunca perdera a inocência batismal; pediu o sacramento da unção dos enfermos e o santo viatico e, de seguida, que os irmãos se preparassem para a encomendação da alma. Todos se ajoelharam para iniciar as ladainhas, mas Domingos pediu-lhes que esperassem um pouco e começou a falar-lhes como Jesus aos seus discípulos na ultima Ceia: "Amai-vos uns aos outros, sede humildes, pobres e puros. Deixo-vos este testamento e esta herança com a benção de Deus e a minha".
Chorando, Frei Ventura aproximou-se dele e disse-lhe: "Pai, vede como nos deixais a todos consternados e órfãos. Lembrai-vos de nos quando estiverdes na gloria de Deus". São Domingos levantou os olhos para o ceu, juntou as mãos, rezou e, voltando-se para os seus filhos angustiados, disse-lhes: "Espero no Senhor que depois de morto vos serei mais útil do que em vida. Não vos esquecerei, levo-vos no coração. No ceu ajudar-vos-ei mais do que aqui". E, momentos depois, a sua santa alma voava para Deus. "Ao amortalha-lho, tiraram a cadeia de ferro que lhe cingia o corpo e com que se disciplinava".
Domingos foi canonizado por Gregorio IX a 13 de junho de 1234. A sua festa litúrgica celebra-se a 8 de agosto.
Desde que a trasladação das suas relíquias se fez numa terça-feira (24 de maio de 1232), este dia ficou, na Ordem Dominicana, consagrado ao Santo Patriarca.
Deus de ternura e compaixão, que suscitaste em Domingos o pregador do teu Evangelho de misericórdia, Evangelho da plenitude da justiça, e o levaste a construir uma família que, em obras e palavras, testemunhasse a gratuidade do teu amor, ajuda-nos a encontrar o silencio donde saia a palavra que alumie de esperança a nossa noite e o gesto que nos traga uma paz ardente.
Faz do Espirito de Jesus Cristo a graça da nossa vida. Amém.
Fonte: Novena a S. Domingos. Editorial Apostolado do Rosario. 2. ed. actualizada. Fatima. 2006.
Distribuidor: Secretariado Nacional do Rosario. Padres Dominicanos.
Rua de São Domingos s/n - 2495-431 FATIMA
E-mail: snrosario@clix.pt
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