segunda-feira, 27 de outubro de 2014

MÊS DO SANTÍSSIMO ROSÁRIO


Caros amigos, outubro é o mês do santíssimo rosário, essa oração imprescindível à vida de todo católico. Como costumam ser as coisas de Deus, simples e profundo, profundo e simples.

 

Talvez nem todos saibam, mas o mês do rosário possui 33 dias; começa em 1.º de outubro e termina em 2 de novembro, finados. Essa feliz coincidência é importante, pois revela-nos a união indissolúvel que há entre o culto mariano, a recitação das Ave-Marias, e a contemplação da vida terrestre de Jesus Cristo, que, segundo a ideia normalmente difundida, teria morrido aos 33 anos. (Afirmam os entendidos – as notas ao começo do Evangelho de São Lucas da Bíblia de Jerusalém – que Jesus Cristo morreu na verdade com 37 ou 38 anos. Mas isso não vem ao caso agora.)

 

A mim me parece que a devoção ao santo rosário é prefigurada no Antigo Testamento em Davi que abate Golias. O pequeno Davi simboliza o fiel. Golias, o demônio. A arma que Davi utilizou para vencer Golias era particularmente rudimentar: uma funda, uma corda ou correia circular, por meio da qual poderia lançar pedras em seu adversário. Ora, a funda e a pedra recordam-me imediatamente o santo rosário: um conjunto de pedrinhas presas a uma cordinha circular.

 

Meditemos um pouco mais na cena. Notemos a desproporção de forças entre o menino e o gigante. Nós, pobres descendentes de Adão, diante do demônio, criatura angélica, somos talvez menos que um simples menino. Há uma brutal desproporção de forças entre um ser humano e uma criatura angélica, que é puro espírito. Tal desproporção aparece também nas armas utilizadas pelo guerreiro Golias e pelo pastor Davi, em quem não assentaram bem as roupas de combate.

 

Notemos ainda outros detalhes. A funda é uma espécie de corda ou correia usada em forma de círculo para fazer girar uma pedra até que adquira força suficiente para ser lançada contra o adversário e feri-lo. A própria forma dos objetos rosário e terço é também circular e, como há repetição de movimentos no girar a pedra, há também repetição no recitar das Ave-Marias e das outras orações vocais. Além disso, pode-se pensar como que numa forma circular do nosso pensamento enquanto medita um dos mistérios do rosário, em cada dezena. Durante a dezena, é como se aquele mistério contemplado, seguindo o ritmo dos recomeços das Ave-Marias, fosse ganhando força dentro da nossa alma.

 

Mais ainda: diz o Primeiro Livro de Samuel que Davi trazia cinco pedras em seu alforje, exatamente o número de mistérios que compõem cada terço. As pedras trazia-as em seu alforje, como que a significar o terço, objeto, que grande parte dos católicos traz sempre consigo, normalmente em seus bolsos. É raro alguém trazer consigo o rosário completo.

 

Davi prevaleceu contra o filisteu, com uma funda e com uma pedra. Assim também o cristão prevalece contra Satanás com o rosário da Virgem Maria. Toda a simplicidade, toda a aparência inofensiva e rudimentar do terço não comprometem sua extraordinária eficácia. Pelo contrário, parece que sua eficácia reside exatamente aí: na força que Deus, pela intercessão da Virgem Maria, infunde misteriosamente à sua aparente impotência. A pedra atirada por Davi incrustou-se na testa de Golias, na sua cabeça, sede do orgulho. Lembremo-nos do que diz o Livro do Gênesis: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Ela te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. A cabeça da serpente simboliza a sede do orgulho, destroçada pela simplicidade de Maria, de que se reveste o terço ou rosário.

 

Não seria demais recordar uma das possíveis origens do rosário. Os religiosos ou membros de ordens terceiras analfabetos, com pouca instrução, não podendo rezar os salmos, que integram as orações litúrgicas da Igreja e são em número de 150, rezavam 150 Ave-Marias em seu lugar. Mais uma vez aparece Davi na história do rosário, e a simplicidade deste, ao facilitar às pessoas com pouca instrução fazer suas orações.

 

Peçamos a Nossa Senhora a graça de rezarmos o terço ou rosário todos os dias como arma contra os nossos inimigos espirituais.


 
Paul Medeiros Krause

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