Prezado
leitor, será que nós estamos plenamente convencidos de que Deus criou-nos para
a felicidade suprema e completa? Será que nos conduzimos por essa verdade?
Estou
me aproximando dos meus quarenta anos, no ano que vem os completo, se Deus
quiser, e as leituras e a experiência de vida acumuladas até aqui levam-me a
crer que a maioria de nós não nos convencemos da nossa vocação inadiável para a
felicidade. Ou, dito de outra forma, estou convencido da existência de uma
tentação sutil, sorrateira, que o demônio arma aos crentes: a ideia ilusória de
que seguir o caminho de Deus significa negar a própria natureza, o
aniquilamento do próprio eu, o sacrifício da espontaneidade e da criatividade, a mutilação da personalidade.
O
demônio é como o PT, na verdade, o PT, verdadeira sucursal do inferno, é como o
demônio: acusa os outros do que ele faz. A grande verdade é que o capeta,
quanto mais uma pessoa a ele se confia, de forma tácita (talvez a mais comum)
ou expressa, mais destrói a sua natureza, o seu eu, a sua identidade única, a
sua liberdade e espontaneidade. As personalidades confiadas ao pai da mentira
são fragmentadas, sem unidade e coerência. O diabo, astuto conhecedor da
natureza humana, sugere continuamente aos homens a ideia de que Deus os quer
tristes e frustrados, os quer mutilados, quer negar-lhes tudo. Lembremo-nos da primeira
mentira da serpente no Livro do Gênesis: “É verdade que Deus vos proibiu de
comer de toda árvore do jardim?”.
O
Livro do Gênesis é de uma atualidade gritante. Aquela mentira é diuturnamente
soprada aos ouvidos da nossa alma pelo inimigo do gênero humano. Desgraçado,
derrotado, sumamente infeliz, invejoso, escravo dos seus vícios, Satanás deseja ver-nos desgraçados,
destroçados, fragmentados, sumamente infelizes como ele.
Há
uma máxima, salvo engano, da teologia escolástica: “A graça não anula a
natureza, mas a leva à perfeição”, isto é, a ação de Deus, a ação do Espírito
Santo na alma em estado de graça, não destrói a natureza humana, não a mutila, não a cerceia, mas eleva-a, aperfeiçoa-a.
Nesse sentido, só pode ser uma tentação diabólica pensar que a ação do Espírito
Santo na nossa alma aniquilará o nosso próprio eu, sufocará a nossa individualidade, destruirá os nossos gostos,
as nossas inclinações, eliminará os nossos lazeres, lançará uma camisa de força
em nossa criatividade. Nada mais falso! É justamente o contrário. O Espírito
Santo tão somente aperfeiçoará os nossos mais legítimos anseios, orientando-os
para o seu pleno atingimento.
É
por desconhecer essas verdades que muitas vezes usamos máscaras. É por ignorar
isso que tantas vezes nos apresentamos diante de Deus e dos homens como nós não somos,
exibindo virtudes que não possuímos e dissimulando nossos defeitos. Temos uma visão equivocada, distorcida e estereotipada da santidade. Muitas
vezes, até para rezar, utilizamos entonações sentimentais, piegas, esquisitas,
pasteurizadas, como se a eficácia da nossa oração dependesse de uma certa
homogeneidade, da opinião exterior da assembleia, e não da nossa nudez, da
nossa tranquila simplicidade diante de Deus, que conhece até as dobras das
nossas almas. Muitas vezes temos a ideia falsa de que Deus deseja um monte de
robozinhos que O sirvam. Esses robozinhos, se olharem para o lado, já estariam
pecando. Nada disso. Isso é escrúpulo.
“Conhecereis
a verdade e a verdade vos libertará”. Deus não nos quer com máscaras. Deus não
nos quer com poses de santos; quer-nos santos, sem pose. Santos ao natural, com os cabelos ao vento. Ele não quer entonações afetadas, sorrisos
forçados, artificialismos. Ele quer que sejamos santos com toda a tranquila espontaneidade que
emerge das nossas almas banhadas pela luz do seu Espírito. Deus quer expandir a nossa personalidade ao máximo, e não manietá-la. Não é à toa que, ao ressuscitar Lázaro, Cristo mandou que o desligassem, o desamarrassem. Deus não nos impõe pesos desnecessários, pois o seu fardo é suave, e o seu peso, leve.
O
Espírito Santo é criativo por natureza, e Ele quer que sejamos livres,
criativos também. Deus só nos proíbe a autodestruição. O pecado é uma espécie
de automutilação, de autoflagelo ou suicídio espiritual. A Lei de Deus, portanto, só nos
proíbe de ferirmos a nós mesmos e aos outros. O pecado nos desfigura; a graça nos cura.
É
sempre bom lembrar as palavras do Papa João Paulo II no início do seu
Pontificado: “Não, não tenhais medo! Antes,
procurai abrir, melhor, escancarai as portas a Cristo! Ao Seu poder salvador abri os confins dos Estados, os sistemas econômicos assim
como os políticos, os vastos campos de cultura, de civilização e de progresso!
Não tenhais medo! Cristo sabe bem 'o que é que está dentro do homem'. Somente
Ele o sabe!”
O
que Deus nos tira, meus irmãos, é o que não é Dele: são as falsas alegrias, os
falsos gozos, as falsas amizades, as falsas esperanças neste mundo ilusório,
pois, como diz São Paulo, “a figura deste mundo passa”.
Tenhamos
a coragem de ser nós mesmos. De corresponder cada vez mais à nossa própria
natureza, à nossa própria identidade. Deus que nos criou com todos os
nossos dons quer que os desenvolvamos ao máximo, e não que enterremos nossos
talentos na terra. Ele mesmo disse isso no Evangelho. Ele não quer tolher a
nossa personalidade, não quer vestir-nos uma camisa de força. Pelo contrário, o
Espírito Santo é o espírito da abertura, da alegria, da liberdade calma, da espontaneidade
tranquila, da simplicidade serena. Nosso Criador não nos deu dons para que nós os atrofiássemos.
Confesso
a vocês, e talvez já tenha dito isso antes, para mim, as manhãs de domingo são
uma metáfora, uma figura do paraíso, da eternidade. Quando vou fazer meu
esporte nas manhãs de domingo, vejo tanta alegria, tanta espontaneidade, tanta
criatividade nas pessoas: vejo bicicletas diferentes, skates diferentes, tantos
tipos de motos, carros, brinquedos e diversões. Vejo coisas que eu nem imaginava que
existissem. Estou seguro de que o paraíso é assim: uma explosão de felicidade,
de criatividade e de espontaneidade, em que as nossas personalidades se mostram
integralmente e encontram a sua plena realização e o seu pleno desenvolvimento, sob o sol
luminoso da presença de Deus.
Paul Medeiros Krause
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