Gustavo Corção Braga |
No dia 30 de janeiro, tive a alegria de
visitar um amigo de longa data. Já erámos amigos, eu já havia lido as suas
cartas, isto é, alguns de seus livros, mas nunca havíamos nos encontrado
pessoalmente. Visitei o túmulo de Gustavo Corção Braga, o grande e destemido
pensador católico, autor brasileiro da minha predileção, no Cemitério São João
Batista, no Rio de Janeiro.
Ao chegar, pedi informações à
administração do cemitério. Disse que pretendia visitar o túmulo de um escritor
e disse-lhe o nome. O funcionário abriu o livro dos mortos famosos, dos túmulos
mais visitados. Advertiu-me que os túmulos mais procurados são os do Cazuza e
da Marília Pêra. Modesto e avesso aos aplausos do mundo, Corção não estava ali.
A pesquisa deveria seguir o método usual destinado aos reles mortais: a
indicação da data do óbito ou do enterro e o nome completo do falecido. Não
houve problema, pois eu dispunha de tais informações.
O número do jazigo chamou-me logo a
atenção. Contém dois números que podem muito bem ser considerados “agostinianos”,
por assim dizer. O “13” e o “430”. 13 porque Aurélio Agostinho, o célebre bispo
de Hipona, nasceu em 13 de novembro de 354. “430” porque ele faleceu no ano
430. Tal coincidência, que poderia ter passado despercebida, não me escapou. E
logo me dei conta de que o coração atormentado e ardente de Corção muito se
assemelha ao do grande africano, cuja conversão também fora intelectual, assim
como a sua. A conversão de ambos foi a culminância de um percurso, de um
caminho, de um trajeto intelectual de busca da verdade.
Mais ainda. Como Santo Agostinho, Corção
possui as suas “Confissões”, “A descoberta do outro”. E a sua obra magna também
é a sua “Cidade de Deus”, “Dois amores – duas cidades”, que, por sinal,
parece uma continuação formidável do inigualável trabalho do doutor da
Graça.
Como o eminente doutor da Igreja, Corção
não prescinde da sinceridade, da espontaneidade e, ao mesmo tempo, do rigor da
forma. Do esmerado cultivo da palavra, da arte de escrever. Não lhe parece
suficiente transmitir a verdade ou o que lhe parecer ser a verdade.
Importa-lhe fazê-lo com a máxima arte possível. Para ele, a beleza não é
supérflua. E não deve ser mesmo, pois um russo já profetizou que a beleza
salvará o mundo...
Encontrei, afinal, o túmulo simples e
sóbrio de Corção, simples e sóbrio como ele próprio. Ali rezei o quinto
mistério gozoso, o do reencontro de Nossa Senhora e de São José com o Menino
Jesus ensinando aos doutores, no templo. Tenho hábito de meditar nos frutos de
cada mistério do terço. O fruto que se costuma considerar no quinto gozoso é a
sabedoria. Pois bem. Ali, diante do mestre, que não está morto, mas está vivo em
Deus fruindo o merecido repouso da eternidade depois de tão árduos combates, de
tão duras lutas, pedi a Deus e, por que não dizer, também a ele, a sabedoria. Ele que também ensinou a tantos e ainda ensina. Ele, esse grande amigo e apaixonado pela sabedoria.
Pedi também, amável leitor, a Deus Nosso
Senhor que faça o país amadurecer e tornar-se capaz de identificar no meio dos escombros os seus
verdadeiros heróis, os homens e mulheres representativos, que realmente edificaram a sociedade na rocha
dos valores, que a sedimentaram na elevação do espírito, e ser-lhes eternamente
grato. Pedi a Deus que cure os nossos olhos da cegueira, as nossas mentes da estultice
e o nosso coração da ingratidão.
Paul Medeiros Krause
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