quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A VOLTA PRA CASA


Eis um trecho de um de meus livros prediletos, se não for o predileto:

"Preparar, pelo trabalho, a volta-para-casa, entre todas as coisas do mundo, é a que tem a maior densidade de ventura. Pode o mundo moderno aviltar o trabalho, fazendo do homem uma pura máquina para o serviço de uma babilônia; pode semear obstáculos sem fim entre a mesa do funcionário e aquela soleira de porta onde ele tira do bolso uma chave encantada e toma posse de um reino; podem os pregadores anunciar um regime ideal, em que a casa é um prolongamento da repartição, uma máquina-de-morar cujos objetos pertencem a todos (o que equivale a dizer que não pertencem a ninguém), e onde o próprio gato receberá um nome oficial; podem socializar, burocratizar, centralizar; e minar os alicerces da família; e arrebatar as crianças para chocadeiras técnicas onde se ensina que foi um dentista ou um bacharel que fizeram o mundo; debalde farão tudo isso com o auxílio de todos os demônios: o homem não esquece o paraíso que perdeu. Não esquece que seu primeiro pai foi um rico proprietário rural, que dava ele mesmo os nomes aos seus bichos e usava fartamente, e sem pena, os frutos de sua terra."

(Gustavo Corção, "Três alqueires e uma vaca")


terça-feira, 22 de novembro de 2016

JULGAR O ATO, SIM; JULGAR A PESSOA, NÃO

 
Algumas pessoas, maliciosamente, outras, ingenuamente, costumam criticar aqueles que eles pensam "julgar as pessoas", "colocar-se acima dos que erram". Tal espécie de crítica ou de pensamento, realmente suscitada pelo pai da mentira, no fundo, é profundamente relativista e subjetivista, e não se coaduna com o evangelho. Na verdade, esses falsos caridosos, esses críticos "dos que julgam", parecem ostentar uma tolerância com o erro, uma condescendência com as ofensas feitas a Deus, enquanto não admitem a menor correção fraterna, o ato de profunda caridade daqueles que se levantam, sem respeito humano, sem se preocuparem com as opiniões do mundo e às vezes até com prejuízo pessoal, para dizer que o certo é certo e que o errado é errado.
 
Esses que "julgam os que julgam" é que verdadeiramente pecam, são preconceituosos e críticos. Pois é lícito e até necessário julgar os atos, de um modo objetivo, sem inquirir sobre a responsabilidade subjetiva, sobre o grau de responsabilidade do que o pratica, a menos que se esteja obrigado a tanto e na medida do que se está autorizado, por lei divina ou humana, como os pais, superiores e juízes. Os atos humanos, as ações humanas, ao contrário do que quer fazer crer o pai da mentira e os seus embaixadores tão simpáticos a este mundo, não são neutros. Não existe meio termo. Ou agrada-se a Deus, ou ofende-se a Deus. Um ato ou ação humana ou atende à Justiça Divina (inclusive aqueles em que há total liberdade de escolha, como por exemplo, vestir verde, azul ou bege) ou a contraria. E não há mal algum em condenar um ato que ofende objetivamente a Lei de Deus.
 
Os atos indiferentes à moral atendem à Justiça Divina, pois a regra é a liberdade. As proibições são exceções.
 
A correta compreensão do "não julgar" significa não ajuizar, não formular juízos sobre o grau da culpabilidade ou da responsabilidade de cada pessoa, pois, em última instância, só Deus as conhece. A gravidade de um ato depende do grau de liberdade e de conhecimento daquele que o pratica. Só Deus os conhece. Por outro lado, quanto ao conteúdo de moralidade dos atos humanos, Deus já o revelou aos homens por meio dos seus mandamentos e dele se ocupam os moralistas - estudiosos da moral - e os peritos em teologia moral, ciência de grande valor. Com efeito, os moralistas e os teólogos moralistas prestam um grande serviço, fazem uma grande caridade ao gênero humano.

Com muita tranquilidade pode dizer-se que um homicídio é mau ou que um ato de homossexualidade é intrinsecamente perverso. Agora, a responsabilidade do homicida e do homossexual, com todas as suas agravantes e atenuantes, só Deus conhece, e o julgamento que só compete a Deus, sobre a salvação ou condenação de cada um no dia do Juízo, não foi delegado a ninguém, nem por lei divina, nem por lei humana. O juiz, ao condenar um homicida à pena privativa de liberdade, não deve julgar-se melhor do que o assassino, pois a teologia ensina que, se Deus o abandonar, ele será capaz de cometer o mesmo crime ou outro muito pior. Todo o bem que fazemos e todo o mal que evitamos devem-se à graça de Deus, é mérito de Deus, e não nosso.
 
Dito isso, para concluir, aos que formulam esta espécie de crítica:
 
-- Nossa! Como você julga as pessoas! 
 
Respondo:
 
-- Nossa! Como você julga os que julgam os atos, e tão somente os atos, das pessoas! Se você é tão tolerante com os que erram, por que não é tolerante com o meu "suposto" erro?

Que nossa ignorância não sirva de pretexto, nem nossa malícia de instrumento, para pactuarmos com o mal.

 

sábado, 19 de novembro de 2016

A RAZÃO É O PILAR DA FÉ

"O pilar que sustenta a fé não é, pois, a emoção ou a carência psicológica. É a busca inteligente e clara da verdade, real, objetiva, sólida, externa ao homem".

("Lições de Gustavo Corção", Marta Braga, Quadrante)

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

O LIVRE-ARBÍTRIO, GRANDE POTÊNCIA DA ALMA

 
Santo Agostinho possui um livro magistral chamado "O Livre-Arbítrio", que eu tive o prazer de ler na minha primeira viagem a Tiradentes. Livro fino, mas denso, verdadeiramente espetacular e de refinadíssimas especulações. Só conheço o da Editora Paulus, não sei se há outra edição no Brasil. Recomendo a leitura, prevenindo-os dos obstáculos que a dificuldade do tema criará por si mesma.
 
Uma das primeiras lições que se aprende em Direito Penal é que o inventor da pólvora não é culpado pelos crimes que depois se realizaram com as armas de fogo. Nem o fabricante de revólveres, pelos delitos cometidos com os produtos do seu engenho ou ofício. Ocorre-me hoje comparar o livre-arbítrio com uma faca, uma chave de fendas ou um automóvel.
 
O fabricante de facas, que em si mesmas são instrumentos extremamente úteis, bem assim o de automóveis, não podem ser responsabilizados por eventuais homicídios ou atropelamentos criminosos cometidos por meio desses instrumentos ou equipamentos. O produtor de uma chave de fendas não pode ser responsabilizado pelo fato de eu, num momento de fúria, resolver enfiá-la no meio do olho de um desafeto.
 
O mesmo se dá com o livre-arbítrio: Deus nos deu a liberdade para amá-Lo, para adquirir méritos, e não deméritos. Deu-nos a liberdade como um meio ou instrumento útil e necessário para amá-Lo; não para odiá-Lo. Portanto, Ele não pode ser responsabilizado pelo mau uso que fazemos dessa maravilhosa potência da nossa alma, empregada em nossas ações, que é a liberdade.
 
Se fôssemos meros robôs, que praticassem o bem sem liberdade, não teríamos méritos nem amor, que pressupõe a liberdade como elemento essencial.
 
Deus não é o autor do mal.
 
Contudo, a experiência demonstra, e a inteligência comprova, que do mal Deus tira o bem. Diz-se: "dos males Deus tira bens; dos grandes males, grandes bens". É bem por isso que na Vigília Pascal a Igreja canta, inebriada, com Santo Agostinho, referindo-se ao pecado original: "Ó culpa feliz que nos mereceu tão grande Salvador!"

 

domingo, 13 de novembro de 2016

TODOS OS SANTOS CARMELITAS


14 de novembro: festa de todos os santos carmelitas. Dia de indulgência plenária para quem usa o escapulário devidamente imposto, desde que cumpra as condições habituais: confissão, comunhão e orações pelo Papa.


sábado, 12 de novembro de 2016

ORAÇÃO DE SANTO AGOSTINHO, UTILIZADA POR MONTFORT


No aniversário de Aurélio Agostinho, Santo Agostinho, nascido na Argélia em 13 de novembro de 354, rezemos a sua belíssima oração tão recomendada no "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem", por São Luís Maria Grignion de Montfort:
 
"Vós sois, ó Jesus, o Cristo, meu Pai santo, meu Deus misericordioso, meu Rei infinitamente grande; sois meu bom pastor, meu único mestre, meu auxílio cheio de bondade, meu bem-amado de uma beleza maravilhosa, meu pão vivo, meu sacerdote eterno, meu guia para a pátria, minha verdadeira luz, minha santa doçura, meu reto caminho, sapiência minha preclara, minha pura simplicidade, minha paz e concórdia; sois, enfim, toda a minha salvaguarda, minha herança preciosa, minha eterna salvação...
 
Ó Jesus Cristo, amável Senhor, por que, em toda a minha vida, amei, por que desejei outra coisa senão vós? Onde estava eu quando não pensava em vós? Ah! que, pelo menos, a partir deste momento meu coração só deseje a vós e só por vós se abrase, Senhor Jesus! Desejos de minha alma, correi, que já bastante tardastes; apressai-vos para o fim a que aspirais; procurai em verdade aquele que procurais. Ó Jesus, anátema seja quem não vos ama. Aquele que não vos ama seja repleto de amarguras. Ó doce Jesus, sede o amor, as delícias, a admiração de todo coração dignamente consagrado à vossa glória. Deus de meu coração e minha partilha, Jesus Cristo, que em vós meu coração desfaleça, e sede vós mesmo a minha vida. Acenda-se em minha alma a brasa ardente de vosso amor e se converta num incêndio todo divino, a arder para sempre no altar de meu coração; que inflame o íntimo do meu ser, e abrase o âmago de minha alma; para que no dia de minha morte eu apareça diante de vós inteiramente consumido em vosso amor... Amém."
 
 

terça-feira, 1 de novembro de 2016

SEMANA DOS MORTOS

 
Começa hoje a Semana dos Mortos, em que se podem lucrar indulgências plenárias pelos falecidos, observando as seguintes condições:

- visita ao cemitério rezando lá pelo menos um Credo e um Pai-Nosso; no dia de finados, a visita pode ser a igreja paroquial em vez de cemitério;

- do dia 1.o a 8 de novembro;

- só vale para os mortos;

- estado de graça;

- confissão individual em dia próximo, no máximo 20 dias antes ou depois, alguns dizem 8 dias antes ou depois;

- comunhão;

- Pai-Nosso, Ave-Maria e Glória ao Pai nas intenções do Papa;

- desapego de todo pecado, inclusive venial.