terça-feira, 22 de novembro de 2016

JULGAR O ATO, SIM; JULGAR A PESSOA, NÃO

 
Algumas pessoas, maliciosamente, outras, ingenuamente, costumam criticar aqueles que eles pensam "julgar as pessoas", "colocar-se acima dos que erram". Tal espécie de crítica ou de pensamento, realmente suscitada pelo pai da mentira, no fundo, é profundamente relativista e subjetivista, e não se coaduna com o evangelho. Na verdade, esses falsos caridosos, esses críticos "dos que julgam", parecem ostentar uma tolerância com o erro, uma condescendência com as ofensas feitas a Deus, enquanto não admitem a menor correção fraterna, o ato de profunda caridade daqueles que se levantam, sem respeito humano, sem se preocuparem com as opiniões do mundo e às vezes até com prejuízo pessoal, para dizer que o certo é certo e que o errado é errado.
 
Esses que "julgam os que julgam" é que verdadeiramente pecam, são preconceituosos e críticos. Pois é lícito e até necessário julgar os atos, de um modo objetivo, sem inquirir sobre a responsabilidade subjetiva, sobre o grau de responsabilidade do que o pratica, a menos que se esteja obrigado a tanto e na medida do que se está autorizado, por lei divina ou humana, como os pais, superiores e juízes. Os atos humanos, as ações humanas, ao contrário do que quer fazer crer o pai da mentira e os seus embaixadores tão simpáticos a este mundo, não são neutros. Não existe meio termo. Ou agrada-se a Deus, ou ofende-se a Deus. Um ato ou ação humana ou atende à Justiça Divina (inclusive aqueles em que há total liberdade de escolha, como por exemplo, vestir verde, azul ou bege) ou a contraria. E não há mal algum em condenar um ato que ofende objetivamente a Lei de Deus.
 
Os atos indiferentes à moral atendem à Justiça Divina, pois a regra é a liberdade. As proibições são exceções.
 
A correta compreensão do "não julgar" significa não ajuizar, não formular juízos sobre o grau da culpabilidade ou da responsabilidade de cada pessoa, pois, em última instância, só Deus as conhece. A gravidade de um ato depende do grau de liberdade e de conhecimento daquele que o pratica. Só Deus os conhece. Por outro lado, quanto ao conteúdo de moralidade dos atos humanos, Deus já o revelou aos homens por meio dos seus mandamentos e dele se ocupam os moralistas - estudiosos da moral - e os peritos em teologia moral, ciência de grande valor. Com efeito, os moralistas e os teólogos moralistas prestam um grande serviço, fazem uma grande caridade ao gênero humano.

Com muita tranquilidade pode dizer-se que um homicídio é mau ou que um ato de homossexualidade é intrinsecamente perverso. Agora, a responsabilidade do homicida e do homossexual, com todas as suas agravantes e atenuantes, só Deus conhece, e o julgamento que só compete a Deus, sobre a salvação ou condenação de cada um no dia do Juízo, não foi delegado a ninguém, nem por lei divina, nem por lei humana. O juiz, ao condenar um homicida à pena privativa de liberdade, não deve julgar-se melhor do que o assassino, pois a teologia ensina que, se Deus o abandonar, ele será capaz de cometer o mesmo crime ou outro muito pior. Todo o bem que fazemos e todo o mal que evitamos devem-se à graça de Deus, é mérito de Deus, e não nosso.
 
Dito isso, para concluir, aos que formulam esta espécie de crítica:
 
-- Nossa! Como você julga as pessoas! 
 
Respondo:
 
-- Nossa! Como você julga os que julgam os atos, e tão somente os atos, das pessoas! Se você é tão tolerante com os que erram, por que não é tolerante com o meu "suposto" erro?

Que nossa ignorância não sirva de pretexto, nem nossa malícia de instrumento, para pactuarmos com o mal.

 

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