sábado, 4 de novembro de 2017

O ESTADO DE GRAÇA


Quando eu era adolescente, achava que o estado de graça fosse uma situação extraordinária e excepcional em que a pessoa se encontra ou pode encontrar-se raríssimas vezes na vida. Algo como o Mark Knopfler tocando “Sultans of Swing” no disco “Alchemy”, provavelmente a melhor de todas as versões ao vivo. Depois descobri que não é bem assim.

É verdade que estar em estado de graça não deixa de ser extraordinário. É que, diz Santo Agostinho, o homem se impressiona mais com as coisas raras do que com as maravilhosas. Estar em estado de graça é maravilhoso, mas ao mesmo tempo tem de ser o ordinário, o cotidiano.

Eu me lembro de um dia em que o meu sobrinho resolveu andar de velocípede dentro do apartamento. Ele tinha um entusiasmo, uma alegria, uma energia infinitas. De sorte que o apartamento parecia minúsculo para ele. E era.

Ocorreu-me que o estado de graça é isto: Deus, eterna e suave criança,  percorrendo nossas minúsculas almas em seu velocípede. Que alegria Ele não traz à alma! Que movimentos graciosos e suaves! Quanta beleza e quantas luzes! Quantas inspirações! O estado de graça é o estado de amizade ou comunhão com Deus. É o estado em que se encontra a pessoa batizada que não pecou mortalmente. O Espírito Santo anda nela. O Espírito Santo mora nela. Anda nela e movimenta-se, santificando-a contínua e discretamente, porque trabalha sempre, nunca fica ocioso. Ensina Chesterton que Deus é mais jovem do que nós.

Se por desgraça cairmos em pecado mortal, a confissão individual devolve-nos a criança com seu velocípede, com seus movimentos, que haviam sido expulsos.


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