quinta-feira, 16 de maio de 2019

CATÓLICO SEGUE A IGREJA, NÃO GURUS

Claustro do Convento Dominicano de Santo Estêvão, Salamanca



É realmente preocupante o culto à personalidade presente em ambientes católicos. É inquietante a facilidade com que alguns indivíduos delegam a faculdade de pensar a outras pessoas, a gurus, supostamente iluminados ou infalíveis. Não me consta que católicos possam ter gurus, já que a própria Sagrada Escritura diz: "maldito o homem que confia em outro homem".

Nenhum ser humano está isento de crítica. Nunca devemos abandonar o espírito crítico ao ler, ver ou ouvir alguma obra humana. Delegar o juízo crítico é cômodo, mas perigoso. Se Deus nos deu a razão, não é para aliená-la aos outros. É para exercitá-la pessoalmente em benefício próprio e do bem comum.

Incomoda-me o modo como alguns cristãos e mesmo algumas editoras tratam, por exemplo, o Olavo de Carvalho. Por mais méritos que tenha, ele certamente é supervalorizado. Esses cristãos e editoras estão sem nenhuma dúvida pagando mico. Mais cedo ou mais tarde isso ficará evidenciado.

Dou um exemplo. Ouçam o áudio abaixo. Reparem na leviandade com que o filósofo da Virgínia dá palpites sobre assuntos que ignora completamente. Ele não é filósofo? Por que se atreve a falar sobre religião? Não digo sobre aspectos gerais que eventualmente poderiam ter alguma relação com o estudo filosófico, mas sobre o tema específico das aparições de Fátima. Ora, mesmo no âmbito dos assuntos teológicos ou religiosos, nem todos estão habilitados a falar sobre revelações privadas. Mais ainda: a leviandade do escritor é ainda maior quando acusa impunemente autoridades da Igreja de terem "trocado" a Irmã Lúcia de Fátima.

Uma pessoa assim destemperada, que quase agride o próprio ouvinte que lhe faz a pergunta, vê conspiradores e inimigos em toda a parte. Como no caso da Irmã Lúcia, obviamente errou em muitos outros, beirando ao delírio as suas afirmações. Na verdade, não só beirando... Quem tiver interesse, poderá pesquisar e ver como ele se refere ao Papa Paulo VI, recentemente canonizado, ao tratar do Concílio Vaticano II e do livro "O século do nada" do Gustavo Corção.

Um escritor como esse, mais do que muitos outros, deve ser lido e acompanhado com extrema prudência. Isso sem falar nos seus modos e no seu estilo, que nada têm a ver com as lições dos grandes autores espirituais, tais como São Francisco de Sales, que ensinava: "o bem não faz barulho. E o barulho não faz bem". O santo bispo e doutor de Genebra ainda esclarecia: depois do pecado, nada há pior do que as inquietações e perturbações. Essa é uma célebre lição encontrada no Filoteia.

Os tuítes do Olavo de Carvalho geram paz? Ou geram inquietação e perturbação? De onde vêm? Procedem de uma autêntica inspiração de Deus que lhe iluminou a mente? Estão enraizadas na caridade, virtude teologal? Se sim, quais são os frutos? Produzem paz e humildade, frutos das obras de Deus?

Não é preciso ser muito entendido nem muito espiritual para compreender que o comportamento de alguns gurus da moda funda-se muito mais no amor próprio, inquieto e agitado, do que no pacífico, ordenado e calmo amor a Deus, zelo pelas coisas de Deus. Trata-se do que muitas vezes se chama "zelo indiscreto": uma vontade de aparecer disfarçada de zelo. Vontade essa incapaz de omitir algum ato inconveniente, de esperar o tempo de falar e de agir e de obedecer, respeitar e reverenciar a hierarquia estabelecida ou a sacralidade das pessoas (incluídos os adversários).

Ao que parece, alguns gurus têm a doce ilusão de que fazem alguma coisa, de que são imprescindíveis, quando na verdade, no máximo, podem ser meras causas segundas, meros instrumentos falhos habilmente utilizados por Deus. Deus é quem age e opera. Não depende de instrumento algum, que pode substituir quando bem quiser. Alguns cristãos chegam a ser infantis no seu ativismo pueril, movido pelo amor próprio e vão desejo de fama.
 
Quem detém a infalibilidade é o Papa, mesmo assim quando se pronuncia "ex cathedra" em questões de fé e de moral. Quem é infalível é a Igreja. Não demos tão facilmente ouvidos a quem detrata a Igreja e a outras pessoas com tanta leviandade e facilidade. A quem age de modo desordenado, inquieto, agitado, desrespeitoso, movido pelo amor próprio. Afinal, o zelo indiscreto mais prejudica do que ajuda, pode comprometer ou inviabilizar o próprio governo Bolsonaro, tal é a desordem que gera.

Os delírios de Olavo de Carvalho sobre a Irmã Lúcia:

https://m.youtube.com/watch?v=c5Bgga8HoKI

A verdade dos fatos:

https://cleofas.com.br/irma-lucia-foi-substituida-por-uma-impostora-o-catequista-desmonta-esta-teoria/


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