19 de março é dia da Solenidade de São
José, Esposo de Maria e Padroeiro da Igreja Universal. Essa data consta do
Catecismo da Igreja Católica e do Código de Direito Canônico como dia santo de
guarda, de preceito, de missa obrigatória. No Brasil, essa data tão
importante só não é dia de preceito porque a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil, a CNBB, com autorização da Santa Sé, exerceu a faculdade de
excluir dias santos de guarda do calendário.
Dizem os teólogos que São José é o maior
de todos os santos, depois de Nossa Senhora. Há até um nome técnico para o
culto que lhe devemos: “protodulia”. “Latria” é o amor de adoração, que devemos
apenas a Deus. “Dulia” é o amor de veneração que devemos aos anjos e aos
santos. “Proto” quer dizer primeiro, por isso Santo Estêvão é protomártir, o
primeiro mártir. São José é o primeiro entre os santos, daí porque merece uma
veneração especial. E, acima de São José, está a sua esposa imaculada, a Virgem
Santíssima, a quem devemos o amor de “hiperdulia”, uma dulia multiplicada,
levada ao mais alto grau. Abaixo de Deus e de Nossa Senhora, mas acima de todos
os anjos – que coisa espantosa um ser humano tornar-se mais puro e perfeito que
as mais puras e perfeitas criaturas espirituais! –, acima dos anjos da mais alta
hierarquia, os serafins, encontra-se o glorioso São José.
A Igreja com toda razão invoca o santo Patriarca
em todas as suas necessidades. Com intuição divina, percebeu a Igreja que
aquelas palavras do Antigo Testamento, relativas a José do Egito, com mais
razão ainda aplicam-se a São José: “Ide a José”. São José, o santo do silêncio,
o santo escondido, o que mais se esconde, o santo da humildade, o amante da pobreza e da
discrição, o amigo de Santa Teresa e patrono dos carmelitas.
A Igreja contém vários dias de festa
dedicados a Nossa Senhora. Mas os santos, em regra, possuem apenas um único dia
litúrgico. São José, ao lado de apenas outros três santos, possui dois dias
festivos: 19 de março e 1.º de maio, este dia de São José Operário. Apenas São Pedro,
São Paulo e São João Batista possuem também dois dias de festa durante o ano
litúrgico.
Como é grande São José! Diz Santo
Alberto Magno: “São José foi varão
perfeito, referente à justiça, pela constância da fé; quanto à temperança, pela
virtude da castidade; quanto à prudência, pela excelência da discrição; quanto
à fortaleza, pela energia do trabalho. Encontramos em São José as quatro virtudes
cardeais em grau máximo.”
Dois livros despertaram em mim uma
especial devoção a São José, embora, infelizmente, ainda se trate de uma
devoção tão mal vivida, pois eu não imito as suas virtudes. São eles: “José,
o silencioso”, de Michel Gasnier, O.P., da Editora Quadrante, que considero o
mais completo que já li sobre o assunto até hoje, e “São José, guardião eucarístico”,
um livrinho inflamado da lavra de São Pedro Julião Eymard, da Editora Ecclesiae. Quisera eu que todos lessem e meditassem, ruminassem o quanto escrito
nesses dois livros.
Diz São Pedro Julião Eymard: “Josué dominou o sol, José ensina o criador
do sol a caminhar”. Acrescenta ele: “Entre
a inumerável multidão dos santos, não encontramos nenhum que tenha sido elevado
a uma dignidade comparável à de São José; ele foi o pai legal do Filho de Deus
feito homem. Eis um simples homem a quem o Filho de Deus vai chamar de pai, a
quem obedecerá e pedirá a bênção paterna. O Pai Celeste despojou-se, de certo
modo, de seus direitos sobre o Filho, depositando-o aos cuidados de José;
enquanto menino, Jesus será submisso a São José (cf. Luc 2, 51).”
Como os santos foram na terra, continuam
sendo no céu. Também no céu, diz mais São Pedro Julião, José é reverenciado
como pai, pelos anjos e pelos santos. Maria, a Rainha do Universo, chama-o e
honra-o como esposo.
Afirmava São Gregório Nazianzeno: “O Senhor conjugou em José, como num sol,
tudo aquilo que os outros santos têm em conjunto de luz e de esplendor”. Não
nos iludamos, pois, com a humildade e a vida oculta de São José, com a sua
santidade sem estrépito, paixão dos verdadeiros místicos e espirituais.
Leão XIII, na Encíclica Quaquam pluries, de 5 de agosto de 1889,
assevera: “É verdade que a dignidade de
Mãe de Deus é tão alta que nada a pode ultrapassar. Porém, como existe entre a
Virgem e José um laço conjugal, não há a menor dúvida de que ele se aproximou
mais do que ninguém dessa dignidade supereminente que coloca a Mãe de Deus
muito acima de todas as criaturas”. O Papa Pio IX proclamou-o Padroeiro da
Igreja Universal. Santa Teresa de Ávila refere, no Livro da Vida, que, ao
contrário de outros santos que parecem ter o poder de conceder determinados
tipos de graças, São José, pela sua experiência, tem poder para conceder
qualquer tipo de graça, para socorrer em qualquer necessidade.
Sentencia a primeira mulher a ser
proclamada Doutora da Igreja: “Não me
lembro de até hoje lhe ter pedido alguma coisa que não ma tenha concedido, nem
posso pensar sem admiração nas graças que Deus me tem concedido por sua
intercessão e nos perigos de que me tem livrado, tanto para a alma como para o
corpo. Parece-me que Deus concede aos outros santos a graça de nos auxiliar
nesta ou naquela necessidade, mas sei por experiência que São José nos socorre
em todas, como se Nosso Senhor quisesse fazer-nos compreender que, assim como
Ele lhe era submisso na terra, porque estava no lugar de pai e como tal era
chamado, também no céu não pode recusar-lhe nada”.
Como é bela aquela oração que o Papa Leão XIII redigiu para São José, visando a defesa da Igreja, que atravessava e atravessa tempos difíceis. Anexa àquela oração há, inclusive, indulgência parcial.
Observemos a humildade de São José:
frequentemente o encontramos no nicho mais escondido, mais simples, das igrejas,
mosteiros e casas de retiro. Numa casa de retiro a que fui uma vez, a imagem
dele, desenhada em azulejos, encontrava-se no lugar mais oculto da casa, do
lado de fora e atrás de uma árvore. Só com muita sorte ou com um sopro
providencial ele poderia ser encontrado.
Mais uma vez, ouçamos São Pedro Julião: “Uma das maiores graças que Deus pode
conceder a uma alma é a devoção a São José. É um presente do tesouro das graças
de Nosso Senhor; quem deseja se elevar a um grau elevado de santidade deve
buscar a intercessão de São José.” “São José, sendo o maior dos santos, é, no
entanto, o mais humilde e o mais obscuro de todos. Com isso ele participa
singularmente da santidade de Maria e de Jesus.”
Sirva esse pequeno texto em homenagem a
São José para que eu obtenha dele um dia a graça de me tornar um verdadeiro
devoto seu, liberto da escravidão dos meus pecados e vícios, tornando-me apto a
contemplar a sua glória no céu.
Paul Medeiros Krause