terça-feira, 28 de julho de 2015

ROTEIRO 500 ANOS DE SANTA TERESA


Com surpresa e alegria vejo hoje o Caderno Viagem do Estadão sugerir o roteiro que pretendo fazer em outubro: o roteiro 500 anos de Santa Teresa, incluindo Segóvia, Salamanca, Alba de Tormes, Ávila. O Estadão concentra-se em Castela e Leão, mas Toledo também não pode ficar de fora.

Vale a pena dar uma conferida!

28.7.2015.


Paul Krause

terça-feira, 21 de julho de 2015

AGOSTINHO, PASCAL E FRANKL


Estou explorando três grandes livros. Costumo ler mais de um ao mesmo tempo, todos em doses homeopáticas. A leitura caminha no conta-gotas.

"Sobre a potencialidade da alma", de Santo Agostinho, é leitura interrompida, ora retomada, não obstante o seu reduzido tamanho. Bastante profundo, parece-me mais filósofico do que teológico, ao contrário de outras obras suas. Provavelmente, alguma coisa estará ultrapassada ou obsoleta. Outras, não. A finura e a precisão do raciocínio do bispo de Hipona, sua incomensurável genialidade, estão presentes em cada página. Santo Agostinho, que na minha petulância sempre classifiquei como o homem mais inteligente de todos os tempos, ajuda-me a aprender a raciocinar. Um menção especial merecem as excelentes e indispensáveis notas explicativas ao fim de cada capítulo da edição da Vozes. Elas permitem uma melhor assimilação do texto e do pensamento do autor.

Continuo lendo "Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo", de Viktor Frankl, em que estão bem expostas, com alguma riqueza de detalhes, mas não de forma excessivamente técnica, as linhas, os contornos, da logoterapia, por ele criada. A edição da Ideias & Letras, infelizmente, é que é péssima: engole sempre os "des".

Por último, "Pensamentos", de Blaise Pascal, o famoso físico e matemático, grande defensor do cristianismo e crítico da simplificação filosófica. Ele que não gostava de concentrar-se unilateralmente nem na grandeza, nem na miséria do homem. Tenho apreciado a profundidade e acidez dos franceses. Não sei se acerto na análise. Agrada-me o que me parece ser um certo pessimismo, franqueza ou mau humor franceses. Contudo, o juízo pode ser precipitado. Minha edição é da Martins Fontes.

Vamos ver no que dá!


Paul Medeiros Krause




"SOB O SOL DE SATÃ"


Acabei, no dia de 18 julho, data da primeira aparição de Nossa Senhora das Graças a Santa Catarina Labouré, na Rue du Bac, em Paris, a leitura de "Sob o sol de Satã", de Georges Bernanos. A aparição foi em Paris; o fim da leitura, em Tiradentes.

Bernanos foi para mim uma grande surpresa e uma agradabilíssima descoberta, ele que é chamado de "Dostoiévski francês". Por coincidência, antes de conhecê-lo, eu havia lido na sequência vários livros do Dostoiévski original. Depois do "Idiota", bastante monótono e cujo final não digeri, enfastiado, queria variar e alimentar meu espírito com outro autor. Coincidentemente, fugi do russo para cair nas graças do seu sucedâneo francês, sem o saber.  

Realmente, há algo parecido nos dois, pois os personagens de Bernanos são complexos e atormentados como os do escritor russo. Também as suas críticas ao mundo e à sociedade adquirem bastante causticidade, são ácidas e ásperas, duras e profundas. Não há meios-termos. Aprecio a sinceridade e uma certa virulência de quem põe o dedo na ferida com o intuito de curá-la. Minha primeira experiência com o pensador católico francês foi "Diário de um pároco de aldeia", talvez o melhor livro que já li até hoje; um dos melhores, com certeza. Entre o "Diário" e "O sol", houve de permeio o opúsculo "Joana, relapsa e santa", que não poupa nem atenua críticas ao clero que condenou Joana d' Arc, padroeira principal da França, à fogueira.

A meu ver, "O sol de Satã" é inferior ao "Diário do pároco". A narrativa é menos linear e há divagações sem fim do autor. Contudo, nelas ainda se manifesta o gênio. Recomendo vivamente a leitura, tendo-me deliciado imensamente com a pureza, a santidade e o espírito de penitência do Padre Donissan.

 
Paul Medeiros Krause
 
 

terça-feira, 7 de julho de 2015

PROGRAMAÇÃO DAS FESTIVIDADES DE NOSSA SENHORA DO CARMO

 
 
 
 Eis o link da programação das festividades em honra de Nossa Senhora do Monte Carmelo em São João del-Rei em 2015.
 
Com particular alegria verifico que o pregador do último tríduo, dos últimos três dias, da novena é Dom Gil Antônio Moreira, o bom e fiel Arcebispo de Juiz de Fora.
 
A Missa Solene do dia 16 será às 17:30h, mas é recomendável chegar bem mais cedo, porque é grande o afluxo de pessoas.
 
Nos dias da novena, que começa hoje, 7 de julho, a Missa, a que se segue a novena com a pregação, é às 18:30h.
 
É um evento religioso imperdível!
 
 


segunda-feira, 6 de julho de 2015

GUSTAVO CORÇÃO




 “Sabes tu, Hermengarda, o que é passar dez anos amarrado ao próprio cadáver?” Com essa citação de Alexandre Herculano, Gustavo Corção abre as suas “Confissões”, o seu primeiro livro – “A descoberta do outro” –, dando-nos uma das mais belas páginas inaugurais da literatura portuguesa. A primeira edição das “Confissões” de Corção, saudadas entusiasticamente pela crítica, esgotou-se em quatro semanas e meia.

Mas a imprescindível obra de Corção, o seu testamento, está há mais de trinta anos amarrada ao seu próprio cadáver. O que não é prejuízo para ele, mas para nós que deixamos de conhecer-lhe o gênio, de desfrutar do seu convívio póstumo.

Na última página de “O desconcerto do mundo”, Corção cita uma passagem do Eclesiastes, depois de ter esclarecido ser este o livro de cabeceira de Machado: “escrever livros é um trabalho sem fim, que cansa o corpo”. Gustavo fez a sua parte; exercitou a pena, cansou o corpo, extenuou a mente. Mas o que ele tem a dizer-nos está hoje sepultado no esquecimento, enterrado na obscuridade do passado.

Com exceção de “Lições de abismo” – em edição com gravuras de Oswaldo Goeldi –, seu único romance e sua obra mais conhecida, traduzido até para o polonês e premiado pela Unesco em 1954, e de “Gustavo Corção – Melhores crônicas” (seleção e prefácio de Luiz Paulo Horta, editora Global, 2010), que se podem adquirir ainda em alguma boa livraria, os excelentes livros do escritor carioca são encontrados apenas em sebos, mesmo assim, com certa dificuldade.

Contudo, uma boa introdução à obra e ao pensamento do escritor são as “Lições de Gustavo Corção”, de Marta Braga, editora Quadrante, 2010.

E se “A descoberta do outro” são as suas “Confissões”, “Dois amores – duas cidades” pode bem ser considerado a sua “Cidade de Deus”, obra enciclopédica que desenvolve a doutrina dos dois amores de Santo Agostinho – e, tal como a do bispo de Hipona que a inspira, cume e síntese do seu trabalho –, demonstrando a existência de duas civilizações, a do homem-interior e a do homem-exterior, fundadas por dois amores, o amor a Deus, até o desprezo de si, e o amor a si, até o desprezo de Deus. É esmiuçada a gênese nominalista da modernidade, no ambiente da escolástica decadente.

Pode ser que algum leitor torça o nariz ao ouvir falar de Gustavo Corção. Mas isso se deve ao fato de que desaprendemos a pensar, isto é, acostumamo-nos a um pensar uniforme, homogêneo, pasteurizado, instantâneo. Pensar dá trabalho. A irracionalidade é também uma zona de conforto. Alguns argumentos de Corção doem. Machucam. São virulentos. Ferem nosso brio. São tapas ou safanões de pai. Gustavo não entrava numa briga pra perder. Esmerava-se. Caprichava no golpe e na defesa do que lhe parecia verdadeiro.

Sou inclinado a dizer que Gustavo Corção mete medo. Não é qualquer um que se atreve a lidar com ele. Embora ostente singular perfeição na forma e no conteúdo, causa também incômodo. Desinstala-nos, desaloja-nos; derruba-nos. É impossível lê-lo e continuar o mesmo, permanecer impassível. Vai-se amá-lo ou odiá-lo. Creio, porém, que sempre suscitará respeito. Todos hão de admirar-lhe a força da erudição, a agudeza da inteligência, a clareza dos conceitos e a finura dos raciocínios. Ele é um gigante que não cabe sob o cobertor do esquecimento. Um braço, um pé, a cabeça, uma mão vão ficar de fora. Mais dia menos dia alguém vai deparar com uma perna à mostra e descobrir o resto do corpo. Vai acusar o golpe, vai sentir o impacto.

Sim, desde que Corção foi enterrado, nossa nação ficou menos inteligente, e o pensamento, menos aguerrido. Mas eu sei que em alguma parte, em alguma estante, ele nos espera. Ele anunciou isso em “Três alqueires e uma vaca”. Falou do leitor dos seus sonhos. Do livro que cada um quis ter escrito, do livro que foi escrito para cada um. Disse que alguns deles são como uma carta, sim, uma carta de resposta. O destinatário, oculto para o autor da mensagem, um dia se apercebe disso. Diz Corção que os momentos mais decisivos para cada homem, para a humanidade, são expectativas de uma resposta. Contudo, certas introduções, certas preparações, são necessárias para o máximo proveito do encontro com o livro, para a chegada da resposta. Tal encontro, acrescenta ele, não constitui tão-somente a simples interseção das trajetórias mecânicas do leitor e do livro, pois este é um objeto situado no mundo do espírito. Há uma espécie de percurso, de rito, de liturgia. Passos, recuos, extravios até a chegada da carta.

Então, acontecendo o encontro, o esbarro, uma profunda reorganização se opera em nossa vida. A resposta devolve-nos a nós mesmos; retifica nossos nervos e nossas ideias em conformidade com o que somos. Faz-nos ser o que somos. É o que eu desejo que aconteça com o seu encontro com Gustavo Corção.
 

Paul Medeiros Krause
 
 
NOTA: Gustavo Corção Braga faleceu no Rio de Janeiro, sua cidade natal, em 6 de julho de 1978, portanto, há 37 anos. Sua morte foi amplamente comentada pelos jornais.