sábado, 7 de janeiro de 2017

MEU PRIMEIRO CONFESSOR


Eu me lembro de um artigo do grande Padre Paschoal Rangel, no famoso jornal "O Lutador", por ocasião da morte do meu primeiro e mais longevo confessor, Dom Cristiano de Araújo Pena, primeiro bispo de Divinópolis. No artigo, intitulado "Ao mestre, com carinho", ele dizia, mais ou menos com essas palavras: "Poucas vezes na vida tive tanto a sensação de estar diante de um santo. Santo mesmo! Canonizável. O bem que esse homem me fez não tem paga aqui na terra."

Para mim não é tão claro que o carioca que se tornou primeiro bispo da Diocese do Divino seja um santo, santo mesmo, canonizável. Não sou capaz de avaliar. Só sei que o Padre Paschoal Rangel foi um gigante, não foi qualquer um, e o que ele diz merece respeito. É bem possível que ele mesmo mereça a honra dos altares e fale de cátedra. Aliás, eu já o vi sendo bem franco e bem pouco indulgente com falhas de um cardeal...

Volto ao ponto. Não pretendo aqui canonizar meu primeiro confessor, para glória dele e vergonha minha, que nada soube aprender. Quero apenas registrar uma qualidade sua que me parece muito grande e, infelizmente, pouco comum.

Eu poderia começar com uma outra grande virtude, hoje caduca, ultrapassada, bolorenta, para gozo do demônio e confusão das almas. Antes de toda missa ele se sentava no confessionário, mostrando-se inteiramente disponível, quase que convidando os fiéis a se confessarem. Não quero me deter nesta grande virtude de um homem de oitenta e cinco anos, totalmente lúcido, que exercia em plenitude o seu sacerdócio. Faço o registro apenas para assinalar que a confissão em si mesma já é um ato difícil, humilhante, de modo que essa disponibildade visível no confessionário funciona como um convite irrecusável da misericórdia divina para a volta à casa paterna. Vendo o padre no confessionário, muitas pessoas que não se confessariam, que não teriam coragem de pedir a confissão, veem Jesus Cristo esperando-as, chamando-as com amor, e acabam se reconciliando com Deus e consigo mesmas.

Na verdade, quero mencionar um ponto em particular. Após toda missa, Dom Cristiano, mesmo octogenário, ajoelhava-se no seu genuflexório e fazia demorada ação de graças. Ele não fazia pose de santo, não fazia pose pra rezar. Mas rezava. Como rezava. E tinha razão. A missa é algo demasiado grande para passarmos imediatamente a outras atividades. Lembro-me de que até as conversas, nesses momentos, ele evitava.

Com muito acerto, o Padre Paulo Ricardo e o Professor Felipe Aquino falam da importância da ação de graças após a comunhão. É a oração mais proveitosa e santificante que existe. Por que desperdiçamos, e por que tantos sacerdotes desperdiçam, tão grande fonte de graças? Cheguemos à igreja um tempo antes de a missa começar e não saiamos dela antes de fazermos dez ou quinze minutos de ação de graças, após a atualização do sacrifício salvífico de Cristo.


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