Mal
começa um novo ano litúrgico, caro leitor, e tem lugar a Solenidade da
Imaculada Conceição de Nossa Senhora, a exatos nove meses do dia 8 de setembro,
em que se comemora a Festa da sua Natividade ou nascimento.
O
dogma da Imaculada Conceição (ou Concepção), solenemente proclamado pelo Papa
Pio IX, por meio da Constituição Apostólica “Ineffabilis Deus”, em 8 de
dezembro de 1854, significa que Maria, ao contrário de todos os outros seres
humanos, foi preservada do pecado original desde a sua concepção. Sim, este
magnífico privilégio foi-lhe outorgado em previsão dos méritos de Cristo, uma
vez que seria uma injúria ao Homem-Deus que a sua própria mãe tivesse estado,
ainda que por um instante sequer, sujeita ao demônio, seu inimigo, pelo pecado.
Com efeito, todo pecado é uma sujeição ao demônio. A Mãe de Deus não poderia
ter estado por algum momento sujeita a ele, pois Deus, infinitamente puro e
santo, não tolera a mínima corrupção ou impureza.
Um
detalhe curioso a respeito desse dogma é o fato de ele ter sido sobrenaturalmente
antecipado por Nossa Senhora das Graças e ratificado, também sobrenaturalmente,
por Nossa Senhora de Lourdes. Em 1830, em Paris, Maria, sob o título de Nossa
Senhora das Graças, pediu a Santa Catarina Labouré que fizesse cunhar e
propagar medalhas (a chamada “medalha milagrosa”) com a inscrição: “Ó Maria,
concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”. Em 1858, quatro anos
após a proclamação do dogma pelo Papa, que o fez no exercício do seu magistério
infalível, isto é, “ex cathedra”, Nossa Senhora confirma pessoalmente o seu
acerto, apresentando-se a Santa Bernadete Soubirous, em Lourdes, da seguinte
forma: “Eu sou a Imaculada Conceição”.
É
preciso reconhecer com a Igreja e com todos os santos, especialmente São Luís
Maria Grignion de Montfort, que todas as devoções têm por princípio e fim Jesus
Cristo. Mesmo a devoção a Maria não é fim em si mesma. Maria não é fim. Maria é
meio. Ela prepara-nos, torna-nos mais dignos, mais humildes, eleva a nossa
devoção a Jesus Cristo. A Virgem Santíssima torna-nos menos indignos de
apresentarmo-nos a Cristo-Rei, revestindo-nos de seus próprios méritos, que
superam os méritos de todos os outros santos juntos.
Maria
é a obra-prima da criação. É a obra-prima das mãos de Deus. É a mais excelsa de
todas as criaturas. Entre ela e Deus vai uma distância infinita, pois é a
distância existente entre criatura e criador. Entretanto, entre as criaturas,
não há uma única sequer que se aproxime da sua grandeza. Por isso, a Igreja lhe
consagra o amor de “hiperdulia”, que é superior ao amor que devemos aos outros
santos e aos anjos, o amor de “dulia”. A Deus, que é criador, devemos o amor de
“latria”, que é o de adoração, de reconhecimento da divindade, da onipotência
divina.
A
mim me parece – frise-se bem, é opinião minha, sujeita a erro – não ser
possível conhecer e amar Maria convenientemente sem ler o “Tratado da
Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, de São Luís Maria Grignion de
Montfort. Não há livro superior a este sobre Mãe de Deus. Este livro é um
mistério, um segredo de santidade. Ele opera milagres espantosos, diria até,
assustadores. A perfeita escravidão a Maria, devoção explicada nesse tratado, é
o meio mais excelente e eficaz para progredir em santidade.
E
é por isso, leitor amigo, que eu me atrevo a dizer que esse é o grande livro e
essa a grande devoção dos tempos modernos. Não será grande honra pertencer à
guarda pessoal de tão boa Rainha? O Rei não destina seus soldados mais
valorosos, mais dignos, mais valentes, mais fiéis, para a guarda pessoal e
proteção da Rainha? Não será grande coisa ser confidente, homem ou mulher de
confiança da Rainha, desfrutar da sua intimidade, conhecer seus segredos,
defender a sua honra e aprender com a maravilhosa delicadeza de seus gestos?
Não
é por outro motivo que homens de Deus como o Padre Paulo Ricardo e o Padre
Rodrigo Maria empenham-se arduamente na divulgação do “Tratado da Verdadeira
Devoção” e realizam uma campanha nacional de consagrações à Virgem Maria, que
costuma encontrar seu ápice justamente no dia 8 de dezembro, pois é
recomendável que essa consagração total, na qualidade de coisa, objeto, escravo
perpétuo, ocorra em uma festa mariana.
Assim,
hoje, caro leitor, se você ama a Deus de verdade, eu gostaria de pedir-lhe, com
todo o ardor da minha alma, diante da gravidade dos dias que correm, que você
se consagre à Virgem Soberana. Leia o “Tratado”. Tenho preferência pela
tradução da Editora Vozes. Caso você queira, sirva-se da edição da Arca de
Maria. Mas leia. Faça a consagração total. Entregue a Maria todos os seus bens
materiais e espirituais, passados, presentes e futuros. Confie à administração
dela os méritos de todos os seus sofrimentos, preces e boas ações. Entregue à
Rainha dos Anjos todas as suas comunhões eucarísticas. Viva essa pobreza – que
na verdade é uma extrema riqueza – espiritual. Divulgue o “Tratado”. Estimule
outras pessoas a consagrar-se a ela. Não há devoção que o demônio tema tanto. Não
há prática que aperfeiçoe tanto a nossa devoção a Cristo.
A
escravidão total a Maria faz-nos pertencer à sua descendência de um modo
perfeito. E o livro do Gênesis fala-nos: “Porei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar.” Não há modo mais eficaz de esmagar a cabeça da serpente e todas as
suas seduções. Se formarmos um grande exército da Virgem, ela converterá o
mundo. “Com Pedro, a Jesus, por Maria”.
Paul Medeiros Krause
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