terça-feira, 30 de julho de 2013

"EU SOU A IMACULADA CONCEIÇÃO"

Mal começa um novo ano litúrgico, caro leitor, e tem lugar a Solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, a exatos nove meses do dia 8 de setembro, em que se comemora a Festa da sua Natividade ou nascimento. 

O dogma da Imaculada Conceição (ou Concepção), solenemente proclamado pelo Papa Pio IX, por meio da Constituição Apostólica “Ineffabilis Deus”, em 8 de dezembro de 1854, significa que Maria, ao contrário de todos os outros seres humanos, foi preservada do pecado original desde a sua concepção. Sim, este magnífico privilégio foi-lhe outorgado em previsão dos méritos de Cristo, uma vez que seria uma injúria ao Homem-Deus que a sua própria mãe tivesse estado, ainda que por um instante sequer, sujeita ao demônio, seu inimigo, pelo pecado. Com efeito, todo pecado é uma sujeição ao demônio. A Mãe de Deus não poderia ter estado por algum momento sujeita a ele, pois Deus, infinitamente puro e santo, não tolera a mínima corrupção ou impureza.

Um detalhe curioso a respeito desse dogma é o fato de ele ter sido sobrenaturalmente antecipado por Nossa Senhora das Graças e ratificado, também sobrenaturalmente, por Nossa Senhora de Lourdes. Em 1830, em Paris, Maria, sob o título de Nossa Senhora das Graças, pediu a Santa Catarina Labouré que fizesse cunhar e propagar medalhas (a chamada “medalha milagrosa”) com a inscrição: “Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”. Em 1858, quatro anos após a proclamação do dogma pelo Papa, que o fez no exercício do seu magistério infalível, isto é, “ex cathedra”, Nossa Senhora confirma pessoalmente o seu acerto, apresentando-se a Santa Bernadete Soubirous, em Lourdes, da seguinte forma: “Eu sou a Imaculada Conceição”.

É preciso reconhecer com a Igreja e com todos os santos, especialmente São Luís Maria Grignion de Montfort, que todas as devoções têm por princípio e fim Jesus Cristo. Mesmo a devoção a Maria não é fim em si mesma. Maria não é fim. Maria é meio. Ela prepara-nos, torna-nos mais dignos, mais humildes, eleva a nossa devoção a Jesus Cristo. A Virgem Santíssima torna-nos menos indignos de apresentarmo-nos a Cristo-Rei, revestindo-nos de seus próprios méritos, que superam os méritos de todos os outros santos juntos.

Maria é a obra-prima da criação. É a obra-prima das mãos de Deus. É a mais excelsa de todas as criaturas. Entre ela e Deus vai uma distância infinita, pois é a distância existente entre criatura e criador. Entretanto, entre as criaturas, não há uma única sequer que se aproxime da sua grandeza. Por isso, a Igreja lhe consagra o amor de “hiperdulia”, que é superior ao amor que devemos aos outros santos e aos anjos, o amor de “dulia”. A Deus, que é criador, devemos o amor de “latria”, que é o de adoração, de reconhecimento da divindade, da onipotência divina.

A mim me parece – frise-se bem, é opinião minha, sujeita a erro – não ser possível conhecer e amar Maria convenientemente sem ler o “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, de São Luís Maria Grignion de Montfort. Não há livro superior a este sobre Mãe de Deus. Este livro é um mistério, um segredo de santidade. Ele opera milagres espantosos, diria até, assustadores. A perfeita escravidão a Maria, devoção explicada nesse tratado, é o meio mais excelente e eficaz para progredir em santidade.

E é por isso, leitor amigo, que eu me atrevo a dizer que esse é o grande livro e essa a grande devoção dos tempos modernos. Não será grande honra pertencer à guarda pessoal de tão boa Rainha? O Rei não destina seus soldados mais valorosos, mais dignos, mais valentes, mais fiéis, para a guarda pessoal e proteção da Rainha? Não será grande coisa ser confidente, homem ou mulher de confiança da Rainha, desfrutar da sua intimidade, conhecer seus segredos, defender a sua honra e aprender com a maravilhosa delicadeza de seus gestos?

Não é por outro motivo que homens de Deus como o Padre Paulo Ricardo e o Padre Rodrigo Maria empenham-se arduamente na divulgação do “Tratado da Verdadeira Devoção” e realizam uma campanha nacional de consagrações à Virgem Maria, que costuma encontrar seu ápice justamente no dia 8 de dezembro, pois é recomendável que essa consagração total, na qualidade de coisa, objeto, escravo perpétuo, ocorra em uma festa mariana.

Assim, hoje, caro leitor, se você ama a Deus de verdade, eu gostaria de pedir-lhe, com todo o ardor da minha alma, diante da gravidade dos dias que correm, que você se consagre à Virgem Soberana. Leia o “Tratado”. Tenho preferência pela tradução da Editora Vozes. Caso você queira, sirva-se da edição da Arca de Maria. Mas leia. Faça a consagração total. Entregue a Maria todos os seus bens materiais e espirituais, passados, presentes e futuros. Confie à administração dela os méritos de todos os seus sofrimentos, preces e boas ações. Entregue à Rainha dos Anjos todas as suas comunhões eucarísticas. Viva essa pobreza – que na verdade é uma extrema riqueza – espiritual. Divulgue o “Tratado”. Estimule outras pessoas a consagrar-se a ela. Não há devoção que o demônio tema tanto. Não há prática que aperfeiçoe tanto a nossa devoção a Cristo.

A escravidão total a Maria faz-nos pertencer à sua descendência de um modo perfeito. E o livro do Gênesis fala-nos: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” Não há modo mais eficaz de esmagar a cabeça da serpente e todas as suas seduções. Se formarmos um grande exército da Virgem, ela converterá o mundo. “Com Pedro, a Jesus, por Maria”.


Paul Medeiros Krause

Nenhum comentário:

Postar um comentário