quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

SANTO TOMÁS, O APÓSTOLO DOS TEMPOS MODERNOS - CORÇÃO

"Santo Tomás o apóstolo dos tempos modernos.

8. Com Leão XIII prossegue a áspera luta 'contra os erros modernos'. Em 1878 publica 'Quod apostolici muneris', contra as ilusões do socialismo e do comunismo, continuando as advertências de seus predecessores, e chegando a dizer: 'Tenham além disso o maior cuidado para evitar que os filhos da Igreja Católica deem seus nomes ou prestem algum favor a essa detestável seita (socialista)'.

Em 1879, a encíclica 'Aeterni Patris', recomenda veementemente a fidelidade ao estudo da obra de Santo Tomás de Aquino.

LEÃO XIII: 'Múltiplos são os motivos que provocam em nós essa ardente vontade. Em primeiro lugar, pelo fato de estar a fé cristã, em nossa época, diariamente exposta às maquinações e às astúcias duma sabedoria enganadora, torna-se mister proporcionar aos jovens, sobretudo àqueles em que a Igreja põe suas melhores esperanças, o alimento forte e substancial da boa doutrina, para que, cheios de vigor, abundantemente equipados, se acostumem cedo a defender a causa da religião com força e sabedoria: 'sempre prontos a responder a quem pedir a razão dessa esperança que carregamos (I Pet III, 15), e a exortar na sã doutrina refutando os contraditores'.' (Tit. I, 9.)

Não é difícil imaginar o estupor dos 'esclarecidos' diante desse documento que recomendava aos moços a doutrina de um doutor da Igreja de 700 anos atrás. Anos mais tarde, durante o admirável renascimento do tomismo em França, Jacques Maritain podia dizer com firmeza e tranquilidade que Santo Tomás era o apóstolo dos tempos modernos, mas o mérito da primeira exumação cabe sem dúvida a Leão XIII.

No ano seguinte publica a encíclica 'Diuturnum', sobre a origem do poder, e contra a funesta doutrina da soberania absoluta do povo, que constitui a mais brutal forma de laicização de nossos tempos. No ano seguinte, na carta 'Cum Multa', dirigida aos espanhóis, retoma o problema das relações entre o religioso e o civil, que os liberais pretendem cortar deixando a religião relegada à esfera privada da consciência de cada um.

Em 1884, escreve 'Humanus Genus' contra a maçonaria e outras sociedades hostis à Igreja, e combatendo o 'naturalismo', doutrina que pretende absorver, na natureza e na razão humana, soberanas para todos os problemas humanos, a ordem da Revelação e da Graça. Nessa encíclica, contra os liberais, volta a firmar a doutrina das relações da Igreja com o Estado. No ano seguinte, aparece a 'Immortale Dei', batendo na mesma tecla, e combatendo a nefasta ideia de 'soberania do povo', a indiferença religiosa, os falsos conceitos de liberdade, e de um modo geral combatendo o laicismo que pretende desligar toda a vida civil de qualquer referência a Deus e a sua Igreja.

No mesmo ano a grande encíclica 'Libertas', sobre a liberdade humana, e sobre os erros do tempo cometidos em nome da liberdade. Mostra que a Igreja é defensora da liberdade e da autoridade, sem as quais não pode o homem viver dignamente. Ataca frontalmente o liberalismo: o radical, que rechaça o senhorio de Deus sobre o homem e sobre a sociedade, relativiza a divisão do bem e mal, deixando a cada um o direito de demarcar, entre o honesto e o torpe, segundo seus gostos ou costumes de seu meio; o mitigado, que não chega a tão 'aterradoras opiniões' mas tende para elas, e mesmo o moderado que cedo ou tarde abrirá o campo do erro inicial. Ataca em seguida a falsa liberdade de religião, que é uma maneira de dizer que todas são falsas, a falsa liberdade de falar e de escrever, a falsa liberdade de ensinar, contrapondo a esses conceitos os da verdadeira liberdade. Cinco anos mais tarde, 1890, temos 'Sapientiae Christianae' voltando ao erro do naturalismo e do laicismo, e lembrando os deveres e obrigações dos cristãos.

Finalmente, em 15 de maio de 1891, publica Leão XIII a primeira encíclica sobre a chamada questão social: 'Rerum Novarum', onde começa por mostrar que o 'socialismo' traz uma falsa solução para o grande problema do estado e condição dos operários. Mostra em 1891 o que só hoje se tornou patente: 'o socialismo piora a condição dos operários', ou traz, como disse Marcel de Corte, um amor pelo homem abstrato que esconde o mais cruel ódio pelo homem de carne e osso que a história já registrou.

Leão XIII defende a doutrina firmada da legitimidade e da necessidade da propriedade privada, e desdobra um ensinamento para a integração do operário na empresa. Começa a Ação Social da Igreja, continuada mais tarde, e acompanhada e vigiada de perto pelas grandes condenações de Pio X, Pio XI, Pio XII, João XXIII e Paulo VI."


Gustavo Corção, "Dois amores - duas cidades". 2.º volume. A civilização do homem-exterior.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

4 ANOS DO ROSÁRIO DA CATEDRAL DA BOA VIAGEM (BH/MG)

Prezado amigo, prezada amiga,
No próximo dia 15 de fevereiro de 2014, a recitação do rosário completo, com os quatro terços, na Catedral da Boa Viagem - na verdade, no oratório externo dedicado a Nossa Senhora de Fátima -, completará 4 anos ininterruptos. Não houve um só sábado, ao longo de todo esse tempo, sem a recitação do rosário. Mesmo que alguma pessoa tenha faltado, tirado férias ou viajado, a oração não parou, sempre havendo pessoas que compareceram.
Como todos sabem, vivemos tempos difíceis, e Nossa Senhora, em suas aparições, tem exigido a recitação do terço. Parece mesmo que um só terço seja insuficiente, razão pela qual resolvemos propagar e estimular a recitação do rosário completo e, inclusive, o ingresso na Confraria de Nossa Senhora do Rosário.
As suas intenções, mesmo que você não possa comparecer, estão desde já colocadas nas intenções daquele dia, sejam quais forem as suas necessidades espirituais ou temporais e as pessoas que lhe são caras. Em todo o caso, se você puder comparecer, será excelente, e peço que estenda o convite aos seus familiares e amigos, eventualmente, até inimigos!
Como forma de comemorar, distribuiremos as biografias de Santa Catarina de Sena e de São Domingos de Gusmão, nossos pais espirituais, ambos expoentes da ordem dos dominicanos, principais responsáveis pela propagação da devoção ao rosário. Aliás, esses santos sempre estão presentes nas imagens ou estampas que retratam Nossa Senhora do Rosário, nossa Rainha, Mestra e Senhora.
Pedimos desde já a São José, que nos abençoe e acompanhe nessa comemoração.
Um abraço e até lá!
Paul Medeiros Krause

AINDA SANTO TOMÁS: FRANCO MONTORO E EDGAR DA MATA-MACHADO

É preciso lembrar pelo menos dois grandes juristas e políticos brasileiros influenciados por Santo Tomás: André Franco Montoro e Edgar de Godói da Mata-Machado. Suas obras são de leitura ou, pelo menos, consulta obrigatória para todo jurista católico.
 
Do primeiro, temos o excepcional "Introdução à Ciência do Direito", muito fiel ao pensamento tomista. Sobre a vida de Franco Montoro, há o excelente "Memórias em linha reta", da Editora Senac.
 
De Edgar de Godói da Mata-Machado, destaco o substancioso "Elementos de Teoria Geral do Direito", "Direito e Coerção" e "Contribuição ao Personalismo Jurídico".
 
Já me foram recomendadas as obras de outros juristas tomistas ou jusnaturalistas, como o australiano John Finnis, o francês Michel Villey, o italiano Francesco D' Agostino e o português Mario Bigotte Chorão. De Michel Villey possuo três obras, bastante interessantes, embora me pareça que ele faça uma certa confusão entre direito natural e moral. São: "A formação do pensamento jurídico moderno", "Filosofia do direito" e "O direito e os direitos humanos", todos eles da Editora Martins Fontes.
 
 

28 DE JANEIRO: SANTO TOMÁS DE AQUINO



Hoje a Igreja faz memória do colossal Santo Tomás de Aquino, designado por alguns como "o mais santo dos sábios e o mais sábio dos santos", apelidado de "boi mudo" e "doutor angélico".
 
Santo Tomás inspirou grandes mestres e sua doutrina e passagem pelo mundo certamente alteraram o curso da história da humanidade. Sem ele, a filosofia e a teologia perderiam muito do seu brilho.
 
Recomendo a leitura de "Santo Tomás de Aquino: biografia", de Gilbert Keith Chesterton, muito elogiado pelo perito em Idade Média Étienne Gilson. Conheço as versões da Ediouro e da LTr, preferindo esta última.
 
Santo Tomás influenciou decisivamente o pensamento da Igreja Católica e do mundo, marcando fortemente o pensamento de Chesterton, Jacques Maritain e Gustavo Corção, para citar apenas alguns poucos.
 
De leitura obrigatória são os seus ensinamentos sobre a lei natural, sempre perenes e de incrível atualidade, mais modernos do que as teorias de muitos pensadores contemporâneos que mal o conhecem.
 
É dele a célebre definição, contida na Suma Teológica: "Toda lei humanamente imposta tem tanto de razão de lei quanto deriva da lei da natureza. Se, contudo, em algo discorda da lei natural, já não será lei, mas corrupção de lei."  (Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2005. Vol. IV. I Seção da II Parte, questão 95, artigo 2).

domingo, 12 de janeiro de 2014

SANTA TERESA DE JESUS SOBRE A ÁGUA BENTA

Caro leitor, por me parecer importante, trago-lhe o ensinamento de uma doutora da Igreja, da escritora que eu mais aprecio, sobre o uso da água benta:


"CAPÍTULO 31
Fala de algumas tentações exteriores e aparições que o demônio produzia nela, bem como dos tormentos que lhe infligia. Trata também de algumas coisas muito boas, como aviso para pessoas que seguem o caminho da perfeição.
 
 
 
1. Desejo falar, já que falei de tentações e perturbações interiores e secretas que me eram causadas pelo demônio, de outras quase públicas em que a sua presença não podia ser ignorada.

2. Eu estava certa vez num oratório e me apareceu, do lado esquerdo, uma figura abominável; percebi especialmente a boca, porque falava: era horrível. Parecia que lhe saía do corpo uma grande chama, muito clara, sem nenhuma sombra. Disse-me, aterrorizando-me, que eu me livrara de suas garras, mas que voltaria a elas. Fiquei com muito temor e fiz o sinal-da-cruz como pude. Ela desapareceu, mas logo voltou. Isso me aconteceu por duas vezes. Não sabendo o que fazer, peguei da água benta que ali havia e lancei-a para onde essa figura se encontrava. Ela nunca mais voltou.
3. Em outra ocasião, o demônio me atormentou durante cinco horas com dores e desassossegos interiores e exteriores tão terríveis que pensei não poder suportar. As pessoas que estavam comigo ficaram espantadas e não sabiam o que fazer, nem eu a que recorrer. Costumo, quando as dores e o mal corporal são muito intoleráveis, fazer atos interiores como posso, suplicando ao Senhor que, se for do Seu agrado, me conceda paciência e me deixe sofrer assim até o fim do mundo.
Nessa ocasião, vendo um padecimento tão rigoroso, procurei refugiar-me nesses atos e na determinação de resistir. Quis o Senhor que eu percebesse que era o demônio, já que vi ao meu lado um negrinho bem abominável, rangendo os dentes como se estivesse desesperado ao perceber que, em vez de ganhar, perdia. Eu, ao vê-lo assim, ri-me e não tive medo. Estavam ali algumas irmãs a quem eu não podia recorrer e que não sabiam como aliviar tanto tormento. Eram grandes os golpes que ele me fazia dar, levando-me, sem que eu pudesse resistir, a bater o corpo, a cabeça e os braços. O pior era o desassossego interior, que de forma alguma me permitia descansar. Eu não me atrevia a pedir às irmãs água benta, para não assustá-las e para que não percebessem do que se tratava.
4. A partir de muitos fatos, obtive a experiência de que não há coisa de que os demônios fujam mais, para não mais voltar, do que da água benta. Eles também fogem da cruz, mas retornam. Deve ser grande a virtude da água benta. Minha alma sente particular e manifesta consolação quando a tomo. É certo que tenho quase sempre um alívio que eu não saberia explicar, uma espécie de deleite interior que me conforta toda a alma. Não se trata de ilusão nem de coisa que só aconteceu uma vez, mas sim de algo frequente que tenho observado com cuidado. Digamos que seja como se a pessoa estivesse com muito calor e sede e bebesse um jarro de água fria, sentindo todo o seu corpo refrescar. Penso em quão importante é tudo o que a Igreja ordena, e alegra-me muito ver que tenham tanta força as palavras que comunica à água benta para que esta fique tão diferente da comum.*
5. Como, pois, não cessasse o tormento, eu disse às pessoas que, se não fossem rir, eu pediria água benta. Trouxeram-na e me aspergiram com ela, mas não adiantou; lancei-a então na direção onde estava o demônio, e ele se foi de imediato e o mal desapareceu por inteiro como se fosse retirado por uma mão, muito embora eu estivesse cansada como se tivesse sido espancada com muitos paus. Foi muito proveitoso ver que o demônio, se já faz tanto mal a uma alma e a um corpo que não lhe pertencem, quando o Senhor o permite, muito mais faria se eles fosses definitivamente seus. Isso renovou o meu ânimo de livrar-me de companhia tão ruim."
 
 
*"'A Venerável Ana de Jesus fala, nas informações para a beatificação da Santa registradas em Salamanca, do extremo cuidado desta: 'Ela nunca queria que andássemos sem ela (água benta). E, diante da angústia que a acometia se alguma vez a esquecêssemos, levávamos recipientes pendurados na cintura, e ela sempre queria que puséssemos um na sua, dizendo-nos: 'Vocês não imaginam o alívio que se sente quando se tem água benta; é um grande bem fruir com tanta facilidade do sangue de Cristo'. E todas as vezes que começávamos a rezar o Divino Ofício pelo caminho, ela nos fazia tomar da água'' (B.M.C., t. 18, p. 465)."
 
Fonte: Santa Teresa de Jesus, "Livro da Vida", Obras completas, Edições Loyola.
 

sábado, 11 de janeiro de 2014

NA VIDA ESPIRITUAL HÁ UMA TÉCNICA

Levei muito tempo para aprender que na vida espiritual há uma técnica. Os exercícios ascéticos foram, são e serão sempre necessários. Eles não são coisas rústicas do passado nem cuidados dispensáveis. Não basta querer evitar o pecado. Há exercícios próprios para fortalecer a alma e a vontade. A oração é indispensável, pois toda a nossa força é emprestada. Diariamente são necessários: oração mental de aproximadamente meia hora, dez minutos de leitura espiritual, cinco minutos de leitura meditada do evangelho, a recitação do terço e, se possível, a participação da Missa e o exame de consciência à noite.
 
Além disso, são necessárias pequenas mortificações, que não façam mal à saúde e nos custem um pouco, como beber menos café, evitar doces, tomar banho frio.
 
Isso tudo sem falar na assídua recepção do sacramento da penitência e na escolha de um sacerdote sábio e piedoso para nos prestar a direção espiritual, para ser o nosso pai espiritual.

DOSTOIÉVSKI, "LUMEN FIDEI" E ETC.

Peço perdão aos caros amigos pelo meu sumiço. Eu imaginava que esse negócio de blog fosse uma coisa mais simples e não tomasse tanto tempo. Ou, pelo menos, não imaginava que me sentiria tão cansado no fim do ano e qualquer naco de tempo parecesse muito. Aliás, talvez seja o caso de pedir perdão não pelo sumiço, mas pelo reaparecimento...
 
Pois é. Concluí a leitura de "Crime e castigo" em 23 de dezembro. Ao contrário do que todos dizem, não achei nada excepcional. Gostei - afinal, é um Dostoiévski! -, mas, para ser sincero, achei um pouco decepcionante. Recuso-me a concordar que seja a obra-prima de Dostoiévski. Há muitas outras que eu prefiro. Com especial destaque para "Memórias do subsolo". E dou sempre preferência para as versões da Editora 34 que possui primorosas traduções diretamente do russo para o português. Se posso avançar mais, mesmo entre os tradutores da Editora 34, tenho preferência pelo Boris Schnaiderman. Mas, é claro, nem todos os livros foram traduzidos por ele. Melhor ler mesmo com os outros tradutores da 34, que também são ótimos.
 
Terminei há pouco, há dois dias, "Duas narrativas fantásticas: A dócil e O sonho de um homem ridículo". Gostei muito. Talvez mais do que "Crime e castigo". Comecei a leitura de "O crocodilo", impagável até aqui. O sarcasmo de Dostoiévski é qualquer coisa do outro mundo.
 
Também iniciei a leitura da Carta Encíclica "Lumen Fidei" do Papa Francisco, que, como todos sabem, começou a ser escrita pelo Papa Bento XVI, provavelmente responsável pela maior parte do texto. Estou gostando muito. "O idiota", de Dostoiévski, é citado logo no início.