segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

SER LEITOR É PADECER NA INTERNET

Segue-se cópia de carta que encaminhei ao Estado de São Paulo a propósito do questionável artigo: "Sou mãe e a favor do aborto", da jornalista Rita Lisauskas, de 3 de novembro de 2015.


Prezado editor,

Escrevo para lamentar a falta de qualidade jornalística do artigo: "Sou mãe e a favor do aborto", do Blog "Ser Mãe é Padecer na Internet", de Rita Lisauskas.

O título já revela a fragilidade do texto, apelando para o lado sentimental da maternidade e para o argumento de autoridade. Qual é a lógica do título? Só mães podem opinar sobre aborto? Sua opinião (das mães) por acaso é mais abalizada pelo fato de serem partes interessadas? Normalmente o que se dá é justamente o contrário: quem é parte interessada em um litígio ou questão deixa-se dominar pela paixão e abandona a razão. Em suma: o argumento de autoridade da jornalista mais enfraquece o artigo do que o robustece. Sugestão à jornalista: servir-se da autoridade do argumento nos próximos textos.

Mais. Os argumentos desenvolvidos são velhos, caducos, lugares-comuns completamente batidos, superados. Faltou criatividade à articulista em desenvolver um texto realmente original, invocando estatísticas que não demonstra e desenvolvendo sofismas de fácil desate.

Vivemos em um Estado que se diz Democrático de Direito, o que significa que todos são iguais perante a lei. Um esôfago realmente não têm direito à vida, mas um ser humano em gestação, sim. A articulista resolveu não matar seu filho e ser mãe, o que é louvável. Mas teria que suportar as penas da lei se confundisse o seu próprio corpo com o filho que agora lhe serve de pretextos para escrever artigos de qualidade questionável. Mesmo se a articulista resolvesse abortar uma perna, digo, amputar um braço, o ordenamento jurídico não lhe permitiria, porque o direito de dispor do corpo também não é absoluto. Ser leitor, sim, é padecer na internet.

Mais originalidade, mais conhecimento filosófico e jurídico seria desejável a quem se propõe a carreira jornalística.

Paul Medeiros Krause

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