quinta-feira, 17 de julho de 2014

A QUEM SERVE A IMPRENSA?



                        Em nossa pátria, há uns cinquenta anos, na Europa, provavelmente há mais tempo, os sermões dos padres eram os verdadeiros formadores da opinião pública. Para ser exato, não somente os sermões dos padres, mas o ensino prestado pelos formidáveis seminários e pelos colégios católicos em geral. Além disso, os bispos falavam mais, melhor e eram mais ouvidos. Também não devem ser esquecidos os conselhos dados nas confissões auriculares, muito mais frequentes. Em outras palavras, pessoas preocupadas com o nosso bem, com o que realmente importa, a salvação das nossas almas, inspiradas por princípios altruístas, sem qualquer espírito de lucro, formavam o nosso caráter, moldavam as nossas opiniões e esculpiam a nossa personalidade.
 

                        Hoje, a imprensa, isenta e imparcial como a serpente do paraíso – salvo raríssimas exceções –, para assumir o papel de formadora da opinião pública que antes cabia aos padres, a todo o momento insufla em nós desconfiança em relação ao Papa, aos cardeais, à Igreja e aos bispos. Mas, que foi que a serpente disse, mentindo? “É verdade que Deus vos proibiu de comer de toda árvore do jardim?” A proibição recaía sobre apenas uma árvore, a da ciência do bem e do mal. Não exatamente com essas palavras, mas com esse sentido, a serpente acrescentou: “Ignorai a ordem de Deus e vos tornareis deuses”. Ora, desde então tornamo-nos deuses tão espertos que nos devoramos uns aos outros e a nós mesmos. Não sobrou quase nada. Foi-se embora toda a carne; sobraram apenas os ossos. Bom será se lá da Ucrânia não vier a 3.ª Guerra Mundial...
 

                        Hoje, utilizando a velha tática da sua ancestral, a imprensa distorce as palavras da Igreja e quer nos fazer crer que esta é castradora e nos proíbe tudo. Ora, Deus só nos proibiu uma coisa: a autodestruição. A Igreja só nos proíbe o uso irresponsável da liberdade, a automutilação, a autoflagelação, o autoaniquilamento, quer físico, quer mental, quer espiritual.

 
                        Essa serpente, digo, essa imprensa que se diz mais sábia e boa que os padres, a quem serve? Estará ela de fato preocupada com o nosso bem, com a nossa felicidade? Não estará ela inserida em um mundo materialista, em uma rede de interesses e, dessa forma, não será ela movida, em muitos casos, pelo vil espírito de lucro? Os jornais não são um bem de consumo, não são um produto posto à venda, muitas vezes de atraente aspecto para abrir a inteligência? Não haverá fortes interesses econômicos a moverem a imprensa escrita, falada e virtual? Não haverá uma trama de disputas e intrigas por detrás de muitas manchetes de jornais? A mídia de um modo geral, não só a imprensa, não estará visando ao lucro acima de tudo, acima do bem e do mal? Não estará ela novamente nos oferecendo o fruto proibido: estabelecer o bem e o mal por nós mesmos?
 

                        Reconheço que as coisas não deveriam funcionar assim. Por exemplo, um vendedor de camisas não deveria pensar em primeiro lugar na sua comissão pelas vendas, mas em atender bem os seus clientes, em deixá-los satisfeitos. Não é papel de um vendedor “empurrar” a camisa mais cara ou livrar-se de uma mercadoria defeituosa. Um bom dentista, da mesma forma, deveria preocupar-se com as nossas cáries e não em ter uma boa remuneração a qualquer custo, inventando procedimentos desnecessários. O mesmo vale para qualquer profissão e atividade humana, inclusive políticos e vendedores de pneus...
 

                        A meu ver, deveríamos privilegiar a boa imprensa e fugir da ruim. Um veículo de comunicação que zomba da fé dos seus leitores não deveria ser lido por eles. Ninguém deveria comprar jornal para ser ofendido pelos seus colunistas. Há algum tempo, li dezenas de artigos sobre a renúncia do Papa que debochavam do dogma da infalibilidade papal. Mas, o pior de tudo é que os colunistas nem sequer sabiam em que consiste o dogma da infalibilidade papal. Muitos parecem pensar que o Papa, só por ser Papa, se for pintar um quadro, o fará melhor que Caravaggio. Se for compor uma música, o fará melhor do que Mozart. Afinal, Mozart era gênio, mas não infalível. Tal é a mentalidade da imprensa supostamente entendida.
 

                        Nós, católicos, somos dóceis demais. Somos bobos demais. Às vezes, achamos graça de ser ridicularizados publicamente. Aplaudimos os que nos ofendem. Somos condescendentes com os que zombam de nós. Beijamos as mãos dos que nos dão pancadas. Mas não deve ser assim quando são os direitos divinos que estão sendo usurpados, quando a glória de Deus está sendo maculada.
 

                        Pergunto: a imprensa defende o aborto por caridade? Ela quer nos instruir ou formar nossa opinião porque é boazinha? É óbvio que não. E quando ela lança dúvidas contra a Igreja, essas mesmas dúvidas nós deveríamos ter em relação a ela.
 

                        Por que na época das eleições surgem sistematicamente, em determinados veículos, notícias em desfavor de um determinado candidato e em benefício de outro? Será mero acaso? Será mera coincidência?
 

                        Como a serpente, a imprensa lança suspeitas contra Deus e seus representantes. “Não, não morrereis, se comerdes do fruto da árvore. Tornar-vos-eis deuses.” Está de volta um velho método, o velho mecanismo. O de desacreditar a palavra de Deus e de seus ministros. O de bajular para matar. O de oferecer o falso bilhete sorteado da loteria para roubar.
 

 

Paul Medeiros Krause
 

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