Em
nossa pátria, há uns cinquenta anos, na Europa, provavelmente há mais tempo, os
sermões dos padres eram os verdadeiros formadores da opinião pública. Para ser
exato, não somente os sermões dos padres, mas o ensino prestado pelos
formidáveis seminários e pelos colégios católicos em geral. Além disso, os
bispos falavam mais, melhor e eram mais ouvidos. Também não devem ser
esquecidos os conselhos dados nas confissões auriculares, muito mais
frequentes. Em outras palavras, pessoas preocupadas com o nosso bem, com o que
realmente importa, a salvação das nossas almas, inspiradas por princípios
altruístas, sem qualquer espírito de lucro, formavam o nosso caráter, moldavam
as nossas opiniões e esculpiam a nossa personalidade.
Hoje,
a imprensa, isenta e imparcial como a serpente do paraíso – salvo raríssimas
exceções –, para assumir o papel de formadora da opinião pública que antes
cabia aos padres, a todo o momento insufla em nós desconfiança em relação ao
Papa, aos cardeais, à Igreja e aos bispos. Mas, que foi que a serpente disse,
mentindo? “É verdade que Deus vos proibiu de comer de toda árvore do jardim?” A
proibição recaía sobre apenas uma árvore, a da ciência do bem e do mal. Não
exatamente com essas palavras, mas com esse sentido, a serpente acrescentou: “Ignorai
a ordem de Deus e vos tornareis deuses”. Ora, desde então tornamo-nos deuses
tão espertos que nos devoramos uns aos outros e a nós mesmos. Não sobrou quase
nada. Foi-se embora toda a carne; sobraram apenas os ossos. Bom será se lá da
Ucrânia não vier a 3.ª Guerra Mundial...
Hoje,
utilizando a velha tática da sua ancestral, a imprensa distorce as palavras da
Igreja e quer nos fazer crer que esta é castradora e nos proíbe tudo. Ora, Deus
só nos proibiu uma coisa: a autodestruição. A Igreja só nos proíbe o uso
irresponsável da liberdade, a automutilação, a autoflagelação, o
autoaniquilamento, quer físico, quer mental, quer espiritual.
Essa
serpente, digo, essa imprensa que se diz mais sábia e boa que os padres, a quem
serve? Estará ela de fato preocupada com o nosso bem, com a nossa felicidade?
Não estará ela inserida em um mundo materialista, em uma rede de interesses e,
dessa forma, não será ela movida, em muitos casos, pelo vil espírito de lucro?
Os jornais não são um bem de consumo, não são um produto posto à venda, muitas
vezes de atraente aspecto para abrir a inteligência? Não haverá fortes
interesses econômicos a moverem a imprensa escrita, falada e virtual? Não
haverá uma trama de disputas e intrigas por detrás de muitas manchetes de
jornais? A mídia de um modo geral, não só a imprensa, não estará visando ao
lucro acima de tudo, acima do bem e do mal? Não estará ela novamente nos
oferecendo o fruto proibido: estabelecer o bem e o mal por nós mesmos?
Reconheço
que as coisas não deveriam funcionar assim. Por exemplo, um vendedor de camisas
não deveria pensar em primeiro lugar na sua comissão pelas vendas, mas em
atender bem os seus clientes, em deixá-los satisfeitos. Não é papel de um
vendedor “empurrar” a camisa mais cara ou livrar-se de uma mercadoria
defeituosa. Um bom dentista, da mesma forma, deveria preocupar-se com as nossas
cáries e não em ter uma boa remuneração a qualquer custo, inventando
procedimentos desnecessários. O mesmo vale para qualquer profissão e atividade
humana, inclusive políticos e vendedores de pneus...
A
meu ver, deveríamos privilegiar a boa imprensa e fugir da ruim. Um veículo de
comunicação que zomba da fé dos seus leitores não deveria ser lido por eles.
Ninguém deveria comprar jornal para ser ofendido pelos seus colunistas. Há
algum tempo, li dezenas de artigos sobre a renúncia do Papa que debochavam do
dogma da infalibilidade papal. Mas, o pior de tudo é que os colunistas nem
sequer sabiam em que consiste o dogma da infalibilidade papal. Muitos parecem
pensar que o Papa, só por ser Papa, se for pintar um quadro, o fará melhor que
Caravaggio. Se for compor uma música, o fará melhor do que Mozart. Afinal,
Mozart era gênio, mas não infalível. Tal é a mentalidade da imprensa
supostamente entendida.
Nós,
católicos, somos dóceis demais. Somos bobos demais. Às vezes, achamos graça de
ser ridicularizados publicamente. Aplaudimos os que nos ofendem. Somos
condescendentes com os que zombam de nós. Beijamos as mãos dos que nos dão
pancadas. Mas não deve ser assim quando são os direitos divinos que estão sendo
usurpados, quando a glória de Deus está sendo maculada.
Pergunto:
a imprensa defende o aborto por caridade? Ela quer nos instruir ou formar nossa
opinião porque é boazinha? É óbvio que não. E quando ela lança dúvidas contra a
Igreja, essas mesmas dúvidas nós deveríamos ter em relação a ela.
Por
que na época das eleições surgem sistematicamente, em determinados veículos,
notícias em desfavor de um determinado candidato e em benefício de outro? Será
mero acaso? Será mera coincidência?
Como
a serpente, a imprensa lança suspeitas contra Deus e seus representantes. “Não,
não morrereis, se comerdes do fruto da árvore. Tornar-vos-eis deuses.” Está de
volta um velho método, o velho mecanismo. O de desacreditar a palavra de Deus e
de seus ministros. O de bajular para matar. O de oferecer o falso bilhete
sorteado da loteria para roubar.
Paul Medeiros Krause
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