sábado, 10 de maio de 2014

"CRIME E CASTIGO", DE DOSTOIÉVSKI (EXCERTO)

 
"Eis que se lembrou das palavras de Sônia: 'Vai a um cruzamento, faz uma reverência ao povo, beija a terra, porque pecaste também perante ela, e diz a todo mundo em voz alta: 'Eu sou um assassino!'. Tremeu todo ao se lembrar disso. E já estava tão oprimido pela desesperadora melancolia e pela inquietação de todo esse tempo, mas especialmente das últimas horas, que acabou se precipitando para a possibilidade dessa sensação inteira, nova, completa. Ela chegou de súbito como uma espécie de acesso: começou a lhe arder na alma como uma fagulha e de repente se apossou de tudo como fogo. Tudo nele amoleceu, e as lágrimas jorraram. Do jeito que estava caiu no chão...
 
Ajoelhou-se no meio da praça, inclinou-se até o chão e beijou essa terra suja, com êxtase e felicidade. Levantou-se e tornou a inclinar-se."


(Dostoiévski, "Crime e castigo")

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