sexta-feira, 16 de maio de 2014

TRECHO DE "DOIS AMORES -- DUAS CIDADES", DO CORÇÃO


"A moderna psicologia profunda, principalmente na doutrina freudiana do 'super-ego', trouxe ao mundo um reforço de desconfiança em relação ao que recebemos de nosso pai, que passou a ser o mais suspeito dos personagens. Tudo o que vem do pai, do mestre, da tradição, de Deus, é visto como coação, como pressão, como imperialismo psicológico. Para cortar esse vínculo, atiramo-nos para o lado da mãe escura que devora os seus filhos.

Terá acontecido alguma coisa assim na origem de nossa história. Não temos a pretensão de esboçar aqui uma psicanálise de nossos primeiros pais; mas temos a convicção de que é impossível tratar do problema e do mistério do amor próprio sem o socorro da teologia. No caso, sem lembrar o pecado original. Marca, estigma, ferida deixada pelo pecado original, mesmo depois de sua total extinção pelo batismo, o amor-próprio será o que os teólogos chamam 'fomes peccati'.
E àquele que vai procurando algo que seja seu, absolutamente seu, sem sombra de alienação, sem sociedade dos homens e de Deus, podemos responder com toda a tradição católica que só temos de nosso, puramente nosso, a miséria de nossos pecados e de nosso amor-próprio."
 

 (Corção, "Dois amores -- duas cidades")




Nenhum comentário:

Postar um comentário