terça-feira, 27 de agosto de 2013

SANTA MÔNICA: AMOR DE MÃE



“(...) Minha mãe, forte na piedade, já tinha vindo ao meu encontro, seguindo-me por terra e por mar, com a segurança posta em Vós, no meio de todos os perigos. Era ela que, nos riscos dos mares, incutia coragem aos próprios marinheiros que costumam animar os inexperientes navegadores do abismo, quando se perturbam: prometia-lhes a chegada a salvamento, porque Vós, em visão, lhe havíeis prometido isso.
 
Encontrou-me em grave perigo, na desesperação de buscar a verdade; mas, enfim, descobrindo-lhe que já não era maniqueísta e que também ainda não era católico, não saltou de alegria, como quem ouve qualquer nova imprevista, apesar de já estar sossegada por eu abandonar parte da minha miséria, que a fazia chorar por mim como um morto, que havíeis de ressuscitar. Minha mãe oferecia-me a Vós, no esquife do pensamento, para que dissésseis a este filho de viúva: ‘Jovem, eu te digo, levanta-te’ – e para que ele revivesse, começasse a falar e o entregásseis à mãe!
 
Não foi, portanto, com imoderado júbilo que seu coração estremeceu, ao ouvir que em grande parte me tinha convertido, graça que ela todos os dias Vos pedia com lágrimas. Ainda não havia alcançado a verdade, mas já me tinha arrancado do erro. Tendo a certeza de que Vós, que lhe prometestes a graça total, me daríeis o que faltava, respondeu-me, com grande calma e com o coração cheio de confiança, que esperava em Cristo que, antes de partir desta vida, me havia de ver fiel católico. Foi isto o que me disse. Mas, diante de Vós, ó fonte de misericórdias, aumentava cada vez mais as súplicas e lágrimas, para que apressásseis o Vosso auxílio e iluminásseis as minhas trevas. Por isso corria com mais diligência à igreja, ficando suspensa dos lábios de Ambrósio como ‘de uma fonte de água que jorra para a vida eterna’. Ela amava este homem como um anjo de Deus, porque sabia que fora ele quem me tinha levado a flutuar nesta dúvida. Antevia, com absoluta certeza, que eu ia passar da doença para a saúde, depois de sofrer de permeio um perigo mais grave, o dessa dúvida, que era o paroxismo das enfermidades que os médicos chamam estado crítico.” (Santo Agostinho, “Confissões”)

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